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quarta-feira, 25 de maio de 2011

O juiz e os seios proibidos

*Aluizio Palmar

O calor naquela tarde de março de 1985 estava insuportável quando Santo Rafain saiu da rua João Rouver e entrou pela contramão na JK para estacionar seu carro no pátio da prefeitura. Tirando com o indicador o suor da testa, ele saiu às pressas do carro e ia se dirigindo para o gabinete quando deu de cara com o juiz de Direito João Kopytowsky. “Doutor vou multá-lo e processá-lo por esta manobra”, disse juiz ao jovem e brilhante advogado, que também era presidente da subseção da OAB e diretor jurídico do Município.


“Cumpra com o seu dever doutor, pois eu tenho de cumprir com o meu. O prefeito me espera. Passe bem”.

Quem assistiu a cena ficou impressionado. Foi hilariante ver o juiz, que estava na calçada do prédio do Banestado, atravessar correndo a avenida, dando uma de guarda de trânsito somente
 para constranger o advogado que vinha se destacando na defesa dos direitos humanos.

Este caso acontecido naquela tarde - que até hoje acho ter sido a mais quente de todas que já vivi em Foz do Iguaçu, é um dos muitos fatos pitorescos protagonizados pelo empedernido juiz durante sua passagem pela comarca.

Direitista convicto, membro da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (entidade surgida com a guerra-fria), Kopytowsky apontava como perigo comunista tudo e todos que contestavam o regime implantado com o golpe militar de 64.

Conservador até a medula, para o juiz até mulher seminua era subversão. E foi por haver publicado uma foto de mulher com os seios à mostra que o semanário Hoje Foz teve toda sua edição apreendida. Isso aconteceu em 1979,
 quando era comum o Pasquim e os jornais populares do eixo Rio-São Paulo publicarem fotos de mulheres desnudas da cintura para cima. Considerando que a ousadia dos jornalistas que editavam o Hoje Foz, “subvertia os bons costumes”, Kopytowsky mandou apreender os exemplares do jornal nas bancas e jornaleiros. Mais tarde ao responder a uma petição do advogado dos proprietários do Hoje, Kopytowsky escreveu em seu despacho que aquela edição do jornal poderia ser vendida somente nas bancas, desde que fossem acondicionados em sacos plásticos com uma tarja escrita “proibido para menores de 18 anos”.

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