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quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Jornalista iguaçuense vasculha documentos da ditadura militar


Rossana Schmitz
jornal Primeira Linha

O nome do jornalista Aluízio Palmar é sinônimo de resistência, perseverança e liberdade. O passado amordaçado por uma ditadura militar deixou marcas inapagáveis no seu corpo e na sua mente, mas não o brutalizou, ao contrário o fez mais forte para lutar pela liberdade de ir e vir, de se expressar, de ser.

No dia 21 de julho, o Ministério da Justiça publicou no Diário Oficial da União uma portaria que dá acesso irrestrito a todos os documentos do Arquivo Nacional. A medida é válida a 12 vítimas da ditadura militar, entre eles Aluízio Palmar. A expectativa é encontrar novas informações que levem ao paradeiro dos desaparecidos políticos do período, o que vai de encontro ao título de livro de Palmar "Onde foi que vocês enterraram nossos mortos?". Desde 1979, quando voltou do exílio, Aluízio Palmar — líder da Dissidência Comunista, fundador e líder do Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR8) — se mobiliza a fim de localizar os restos mortais de Onofre Pinto, Joel José de Carvalho, Daniel de Carvalho, José Lavéchia, Vítor Ramos e Enrique Ruggia.



"Nós temos falado que o processo de democratização do Brasil não estará concluso enquanto as feridas da ditadura estiverem abertas. Abrir os arquivos é conhecer o que passou no período ditatorial. Foi assim que passamos pelas décadas de 80 e 90 do século passado e entramos no século 21 sem conhecer a verdade, circunstâncias das mortes e a localização dos corpos dos resistentes mortos pela repressão do regime militar.Passamos de um período de arbítrio para um processo de democratização sem que houvesse a justiça de transição, onde a memória e a verdade viessem à tona.

Apesar da abertura dos arquivos das delegacias de ordem política e social (DOPS), acontecidas na década de 80 e a abertura dos arquivos do Serviço Nacional de Informações, acontecida mais recentemente, continuam ainda fechados os arquivos das Forças Armadas e da Polícia Federal", explica Palmar.


 

Nos bastidores

Nessa ‘escavação’ o grupo, composto por gente de São Paulo, Recife, Salvador, Porto Alegre e Brasília, criou uma escala para vasculhar a fundo todos os acervos disponíveis." Sabemos que é difícil, mas foi uma vitória conquistada nessa etapa.Nossa pesquisa está concentrada no Arquivo Nacional, nos acervos da ditadura militar disponibilizados para o Ministério da Justiça. Este trabalho não tem nenhum custo para a União. É parte da causa de 32 anos dos familiares e amigos dos mortos e desaparecidos políticos, dos grupos Tortura Nunca Mais, das comissões de Direitos Humanos, de todos que anseiam pela criação imediata da Comissão da Memória, Verdade.

A Verdade

" Estamos indo em busca da verdade histórica, trazer à luz os acontecimentos de 1º de abril de 1964 e anos posteriores, os bastidores do golpe civil-militar, ir a fundo no conhecimento do aparato repressivo do Estado Policial, suas vítimas, seus algozes, seus cúmplices, a formação dos grupos paramilitares, as violações, como se deu o financiamento da repressão, circunstâncias das mortes e dos desaparecimentos forçados, a localização dos locais onde os corpos foram ocultados", esclarece Palmar.

A luta continua

Palmar se diz um "sobrevivente" e explica: " Muitos amigos e companheiros caíram na luta contra a ditadura. Se eu estou aqui hoje é porque fui resgatado da sucursal do inferno na terra, o centro de tortura da Ilha Grande. Quase todos os companheiros que participaram da ação que me libertou, juntamente com outros 69 presos políticos, já morreram vitimados pela ditadura. Eu estou aqui e tenho um compromisso de contar, esclarecer, conscientizar as pessoas. É preciso não esquecer, para que nunca mais aconteça um regime tirânico em nosso País"

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