Rossana Schmitz
jornal Primeira Linha
O nome do
jornalista Aluízio Palmar é sinônimo de resistência, perseverança e liberdade. O
passado amordaçado por uma ditadura militar deixou marcas inapagáveis no seu
corpo e na sua mente, mas não o brutalizou, ao contrário o fez mais forte para
lutar pela liberdade de ir e vir, de se expressar, de ser.
No dia 21 de
julho, o Ministério da Justiça publicou no Diário Oficial da União uma portaria
que dá acesso irrestrito a todos os documentos do Arquivo Nacional. A medida é
válida a 12 vítimas da ditadura militar, entre eles Aluízio Palmar. A
expectativa é encontrar novas informações que levem ao paradeiro dos
desaparecidos políticos do período, o que vai de encontro ao título de livro de
Palmar "Onde foi que vocês enterraram nossos mortos?". Desde 1979, quando voltou
do exílio, Aluízio Palmar — líder da Dissidência Comunista, fundador e líder do
Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR8) — se mobiliza a fim de localizar os
restos mortais de Onofre Pinto, Joel José de Carvalho, Daniel de Carvalho, José
Lavéchia, Vítor Ramos e Enrique Ruggia.
"Nós temos
falado que o processo de democratização do Brasil não estará concluso enquanto
as feridas da ditadura estiverem abertas. Abrir os arquivos é conhecer o que
passou no período ditatorial. Foi assim que passamos pelas décadas de 80 e 90 do
século passado e entramos no século 21 sem conhecer a verdade, circunstâncias
das mortes e a localização dos corpos dos resistentes mortos pela repressão do
regime militar.Passamos de um período de arbítrio para um processo de
democratização sem que houvesse a justiça de transição, onde a memória e a
verdade viessem à tona.
Apesar da
abertura dos arquivos das delegacias de ordem política e social (DOPS),
acontecidas na década de 80 e a abertura dos arquivos do Serviço Nacional de
Informações, acontecida mais recentemente, continuam ainda fechados os arquivos
das Forças Armadas e da Polícia Federal", explica Palmar.
Nos
bastidores
Nessa
‘escavação’ o grupo, composto por gente de São Paulo, Recife, Salvador, Porto
Alegre e Brasília, criou uma escala para vasculhar a fundo todos os acervos
disponíveis." Sabemos que é difícil, mas foi uma vitória conquistada nessa
etapa.Nossa pesquisa está concentrada no Arquivo Nacional, nos acervos da
ditadura militar disponibilizados para o Ministério da Justiça. Este trabalho
não tem nenhum custo para a União. É parte da causa de 32 anos dos familiares e
amigos dos mortos e desaparecidos políticos, dos grupos Tortura Nunca Mais, das
comissões de Direitos Humanos, de todos que anseiam pela criação imediata da
Comissão da Memória, Verdade.
A Verdade
" Estamos indo
em busca da verdade histórica, trazer à luz os acontecimentos de 1º de abril de
1964 e anos posteriores, os bastidores do golpe civil-militar, ir a fundo no
conhecimento do aparato repressivo do Estado Policial, suas vítimas, seus
algozes, seus cúmplices, a formação dos grupos paramilitares, as violações, como
se deu o financiamento da repressão, circunstâncias das mortes e dos
desaparecimentos forçados, a localização dos locais onde os corpos foram
ocultados", esclarece Palmar.
A luta
continua
Palmar se diz
um "sobrevivente" e explica: " Muitos amigos e companheiros caíram na luta
contra a ditadura. Se eu estou aqui hoje é porque fui resgatado da sucursal do
inferno na terra, o centro de tortura da Ilha Grande. Quase todos os
companheiros que participaram da ação que me libertou, juntamente com outros 69
presos políticos, já morreram vitimados pela ditadura. Eu estou aqui e tenho um
compromisso de contar, esclarecer, conscientizar as pessoas. É preciso não
esquecer, para que nunca mais aconteça um regime tirânico em nosso
País"
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