Obrajes e mensus
* Aluizio Palmar
Quando a expedição comandada pelo tenente engenheiro José Joaquim Firmino chegou em 22 de novembro de 1889 na foz do rio Iguaçu encontrou uma terra dominada por empresas concessionárias da exploração de erva-mate e madeira de lei. Nos obrajes, o trabalho era escravo e os trabalhadores, suas mulheres e filhos eram tratados com violência.
Os mensus, uma derivação do espanhol mensualista, eram a mão-de-obra quase absoluta empregada nos trabalhos de extração. Sua arregimentação era feita pela força e eles deviam obediência irrestrita aos obrajeros e seus capatazes, verdadeiros monarcas, com poder de vida e morte sobre os trabalhadores.
Essa situação perdurou mesmo depois da instalação da Colônia Militar. As autoridades constituídas da Colônia atuavam sempre em defesa dos donos dos obrajes.
Arthur Martins de Franco, em suas Recordações de viagem ao Alto Paraná, conta que o Tenente Pimenta de Araújo, comandante da força pública, para melhor castigar os peões que caiam em seu desagrado, mandara colocar dentro de um dos quartos da casa, que servia de cadeia, uma caixa grande onde cabia uma pessoa de cócoras ou mal sentada e dentro dela mandava prender quem desejava castigar.
A arbitrariedade e a corrupção não se restringiam unicamente à força policial.Segundo ainda Martins de Franco muitos oficiais encarregados de administrar a Colônia Militar agiam de maneira, no mínimo incorreta, fazendo vistas grossas ao que acontecia nos obrajes.
A violência, corriqueira nos acampamentos madeireiros e de extração da erva-mate, não era contestada pelos mensus. Fracos, descalços, eles passavam meses embrenhados no mato. Fugir era impossível. Quem se aventurava acabava boiando nas águas do rio Paraná ou preso na caixa do Tenente Pimenta. A vigilância sobre eles era severa e constante.
Os atos de violência mais contundentes ocorriam na hora do acerto de contas. Os mensus estavam sempre devendo para o patrão. Esse endividamento constante e progressivo aumentava o grau de dependência, que já começava na contratação do peão. Ao começar a trabalhar a peonada recebia um adiantamento, chamado de antecipo. O dinheiro era dado a peonada antes do embarque para os futuros locais de trabalho. As embarcações atrasavam de propósito até cinco dias e durante esse tempo os peões gastavam todo o antecipo com mulheres e bebidas e já chegavam no obraje devendo para o patrão. O desgraçado do trabalhador nunca mais conseguia pagar o que havia recebido.
* Aluizio Palmar é jornalista em Foz do Iguaçu.
palmar64@gmail.com
Quando a expedição comandada pelo tenente engenheiro José Joaquim Firmino chegou em 22 de novembro de 1889 na foz do rio Iguaçu encontrou uma terra dominada por empresas concessionárias da exploração de erva-mate e madeira de lei. Nos obrajes, o trabalho era escravo e os trabalhadores, suas mulheres e filhos eram tratados com violência.
Os mensus, uma derivação do espanhol mensualista, eram a mão-de-obra quase absoluta empregada nos trabalhos de extração. Sua arregimentação era feita pela força e eles deviam obediência irrestrita aos obrajeros e seus capatazes, verdadeiros monarcas, com poder de vida e morte sobre os trabalhadores.
Essa situação perdurou mesmo depois da instalação da Colônia Militar. As autoridades constituídas da Colônia atuavam sempre em defesa dos donos dos obrajes.
Arthur Martins de Franco, em suas Recordações de viagem ao Alto Paraná, conta que o Tenente Pimenta de Araújo, comandante da força pública, para melhor castigar os peões que caiam em seu desagrado, mandara colocar dentro de um dos quartos da casa, que servia de cadeia, uma caixa grande onde cabia uma pessoa de cócoras ou mal sentada e dentro dela mandava prender quem desejava castigar.
A arbitrariedade e a corrupção não se restringiam unicamente à força policial.Segundo ainda Martins de Franco muitos oficiais encarregados de administrar a Colônia Militar agiam de maneira, no mínimo incorreta, fazendo vistas grossas ao que acontecia nos obrajes.
A violência, corriqueira nos acampamentos madeireiros e de extração da erva-mate, não era contestada pelos mensus. Fracos, descalços, eles passavam meses embrenhados no mato. Fugir era impossível. Quem se aventurava acabava boiando nas águas do rio Paraná ou preso na caixa do Tenente Pimenta. A vigilância sobre eles era severa e constante.
Os atos de violência mais contundentes ocorriam na hora do acerto de contas. Os mensus estavam sempre devendo para o patrão. Esse endividamento constante e progressivo aumentava o grau de dependência, que já começava na contratação do peão. Ao começar a trabalhar a peonada recebia um adiantamento, chamado de antecipo. O dinheiro era dado a peonada antes do embarque para os futuros locais de trabalho. As embarcações atrasavam de propósito até cinco dias e durante esse tempo os peões gastavam todo o antecipo com mulheres e bebidas e já chegavam no obraje devendo para o patrão. O desgraçado do trabalhador nunca mais conseguia pagar o que havia recebido.
* Aluizio Palmar é jornalista em Foz do Iguaçu.
palmar64@gmail.com
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