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sábado, 19 de maio de 2018

MATA! A ORDEM PARTIU DE GEISEL. CHACINA NO PARQUE NACIONAL DO IGUAÇU


Aluizio Palmar escapou da morte
na chacina da Estrada do Colono, quando um
grupo da repressão fuzilou cinco guerrilheiros
Na noite de 13 de julho de 1974, uma caminhonete Rural Willys percorria a Estrada do Colono no sentido Capanema/Medianeira. Em determinado momento, o veículo parou e seus ocupantes desceram. No mesmo instante, alguns holofotes foram acesos no interior da mata. Fuzis e metralhadoras foram acionados. As rajadas mataram cinco ocupantes da velha Rural Willys.
Essa história foi contada, nos mínimos detalhes, pelo jornalista iguaçuenseAluizio Palmar em seu livro Onde foi que vocês enterraram nossos mortos?, publicado em 2005. Agora, a história volta à tona com a revelação do diretor da CIA, William Colby, de que o ex-presidente Ernesto Geisel ordenou ao general João Batista Figueiredo para continuar eliminando dissidentes da ditadura, “tomando cuidado para que somente os subversivos perigosos fossem executados”.
Aluizio Palmar poderia estar entre os cinco militantes que foram executados na Estrada do Colono, e hoje não estaria vivo para escrever seu livro, escarafunchar os arquivos da ditadura, criar o site “Documentos Revelados” e iniciar uma busca incessante pelos corpos dos combatentes da ditadura fuzilados na Estrada do Colono.
Os guerrilheiros eram Joel José de Carvalho, Daniel de Carvalho, José Lavecchia, Vitor Carlos Ramos e Ernesto Ruggia. Eles estavam refugiados na Argentina e foram atraídos para a emboscada fatal. “Eles foram atraídos pelo ex-sargentoAlberi Vieira dos Santos para serem executados pelos ‘cães de guerra’ do Centro de Inteligência do Exército que, durante a fase final da Operação Juriti, atraíam exilados políticos para serem mortos no Brasil”, recorda Aluizio Palmar.



Guerrilheiros atraídos para uma 
emboscada foram metralhados 
na Estrada do Colono

A cilada deu certo porque Alberi, o agente infiltrado, ganhara a confiança de Onofre Pinto, um respeitado dirigente da VPR, que na mesma operação comandada pelo coronel Paulo Malhães foi assassinado após ser torturado durante dias.
Segundo a testemunha Otávio Rainolfo da Silva, após a morte dos cinco membros da VPR na cilada montada na Estrada do Colono, Onofre Pinto foi conduzido para uma casa situada num local de mata a mais ou menos cem metros da Rodovia 469, em Foz do Iguaçu. Ainda conforme a testemunha, Onofre teria morrido após receber uma injeção de Shelltox e ter seu corpo jogado no braço falso do Rio São Francisco, próximo a Santa Helena.
Aluizio Palmar não caiu na emboscada porque desconfiou do sargento Alberi. Os dois estiveram presos no Ahú, em Curitiba. Palmar sempre dormia com um olho aberto e passou a desconfiar de que Alberi era um agente disfarçado do Exército.
Depois que Aluizio Palmar foi libertado em troca do embaixador suíço, encontrou o sargento Alberi na Argentina, em janeiro de 1974. Nessa ocasião, Alberi mencionou um audacioso plano de retornar ao Brasil e iniciar uma guerrilha no Oeste do Paraná. “Ele falou que estava tudo certo para o retorno, e eu pedi para encontrá-lo mais tarde. Tive a intuição que poderia ser uma cilada e fui embora de táxi. Anos mais tarde, quando voltei do exílio, esse grupo não figurava na lista de sobreviventes”, conta Palmar.
Depois de anos de pesquisa e dezenas de pista falsas, Aluizio Palmar chegou perto da verdade quando foram abertos os arquivos da Polícia Federal para a Comissão de Mortos e Desaparecidos. Palmar foi credenciado e fez um trabalho incansável. Descobriu que o motorista da Rural Willys era, na verdade, o agente infiltrado Otávio Rainolfo da Silva. Mais tarde, Rainolfo confessou sua participação e revelou detalhes da emboscada.
Em depoimento à Comissão da Verdade, em 2013, Otávio Rainolfo relatou como ocorreu o assassinato dos cinco guerrilheiros. “De repente, as luzes acenderam e deu um tiroteio. Praticamente acabou com todo mundo. Se eu não me deito, tinha morrido também.” A luz era a senha para que os infiltrados se protegessem no instante em que os outros militares começassem a atirar contra os guerrilheiros.
Cinco dos seis guerrilheiros atraídos para uma emboscada foram metralhados na Estrada do Colono
“Documentos Revelados”
Aluizio Palmar ajudou a fundar o Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR8), em homenagem ao dia da captura de Che Guevara. Depois de três anos de luta contra a ditadura, foi obrigado a entrar na clandestinidade.
Enviado para Foz do Iguaçu em 1967 com a missão de estruturar bases do MR8 na região, acabou preso em Cascavel dois anos depois. A partir dali, conheceria todos os tipos de tortura: afogamento, pau de arara, telefone, choque elétrico.
Aluizio foi condenado a seis anos de prisão e encarcerado no presídio da Ilha Grande, no Rio. Saiu de lá ao lado de outros 69 presos políticos trocados pelo embaixador da Suíça Giovanni Bucher, que havia sido sequestrado por guerrilheiros.
Viveu exilado no Chile e na Argentina até retornar ao Brasil no momento em que os militares brasileiros já negociavam a elaboração da Lei da Anistia.
Em Foz ele fundou o jornal Nosso Tempo, junto com Adelino de Souza e Juvêncio Mazzarollo. Continua militando nos movimentos sociais e se dedica a um importante site,”Documentos Revelados”, com mais de 80 mil arquivos. É presidente do Centro de Direitos Humanos e Memória Popular de Foz do Iguaçu e membro do Comitê de Acompanhamento da Sociedade Civil junto à Comissão Nacional de Anistia.

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