Os tenentes bandidos de Foz do Iguaçu
Jamil, Aramis e Neusar eram tenentes da reserva (R2) e se
conheceram no então 1º Batalhão de Fronteiras de Foz do Iguaçu.
Conviviam com a sociedade iguaçuense nos bailes do Country
Clube, na boate do Hotel Carimã e outros lugares "chiques",
frequentados pelas famílias da "alta".
Os três oficiais estavam lotados no Serviço de Inteligência
do Exército (S2), então poderoso braço da ditadura militar aqui na fronteira.
Em julho de 1974, a Segunda Seção deu apoio a um grupo de
extermínio que veio do Rio de Janeiro e os tenentes participaram do assassinato
e ocultação dos corpos de seis exilados atraídos para uma emboscada.
Em 1975, após os assassinatos dos militantes de esquerda, e
sempre sob a proteção de seus superiores, Jamil Jomar de Paula foi acolhido pela Itaipu Binacional, onde atuou
como espião na famigerada Assessoria Especial de Segurança e Informações -
AESI.
Um pouco antes, em 1974, os outros dois tenentes, Aramis
Ramos Pedroza e João Neusar Machado, assumiram, por indicação de altos oficiais
do Exército, cargos de chefia na Polícia Militar do Estado de Mato Grosso.
Em Mato Grosso, continuou a vida bandida dos dois oficiais do
Exército, e em 1976, Aramis e Machado, seqüestraram com a finalidade de
extorquir uma soma milionária, o filho do banqueiro e pecuarista, Lúdio Martins
Coelho.
A extorsão não deu certo e o jovem foi assassinado com dois
tiros na cabeça. Aramis e Machado foram presos e condenados. A vida de crimes
de Aramis Pedroza acaba com sua morte numa "tentativa de fuga". Neusar
Machado cumpriu pena em Cuiabá e Curitiba. Lúdio Coelho foi eleito prefeito de Campo
Grande e mais tarde senador pelo Estado de Mato Grosso do Sul.
Enquanto seus amigos cometiam crimes em Mato Grosso, Jamil
Jomar de Paula aprontava na Itaipu Binacional.
Ao mesmo tempo em que espionava os moradores das vilas residenciais
e as oposições às ditaduras militares do Brasil e Paraguai, ele praticava
pequenos roubos, fazia contrabando e tráfico de entorpecentes.
Em 1976, após ter roubado uma pistola .45, Jamil foi afastado
da Assessoria Especial de Segurança e
Informações de Itaipu.
As causas do afastamento foram abafadas e o ex-tenente
continuou freqüentando o Country Clube e gozando da intimidade das famílias
sócias da valhacouto das vaidades dos ricos, novos ricos e falsos ricos
iguaçuenses.
Protegido pelas maiores e não melhores autoridades de Foz do
Iguaçu, Jamil nadava de braçada, fazendo contrabando de entorpecentes e de
uísque.
Em 1977, sua namorada decidiu acabar com o relacionamento e
ele a ameaçou, dizendo que "ela ia se dar mal". Arrogante ao extremo,
sentindo-se protegido e impune, Jamil de Paula não aceitou ser desprezado e na
madrugada do dia 17 de abril de 1977, ele matou Rejane Mariza Dal Bó.
O ex-tenente esperou atocaiado, que a jovem de 16 anos
retornasse de um baile, onde foi acompanhada pelo engenheiro da Itaipu, João
Carlos Ximemes. Protegido pela escuridão da travessa onde residia a estudante,
Jamil descarregou à sangue frio, o pente
de sua pistola.
Rejane morreu na hora e seu acompanhante, também baleado, ficou
paraplégico.
O crime brutal consternou a cidade e na segunda-feira, dia 18
de abril, não teve aula no Colégio Anglo Americano, onde Rejane estudava.
Sempre acobertado, o assassino fugiu do local do crime e
somente em maio de 1979, foi preso; cumprindo com regalias sua "pena"
em quartéis do Exército e da Polícia Militar de Curitiba.
Epílogo
Aramis,
morto durante uma fuga preparada, enquanto cumpria pela pelo assassinato de
Ludinho Coelho.
Neusar
Machado, cumpriu pena em Cuiabá e Piraquara. Mora em Curitiba, refugiado dentro
de casa.
Jamil Jomar
de Paula, após ser preso pelo assassinato da estudante Rejane Dal Bó (16 anos), cumpriu, com privilégios,
pena em quartéis do Exército e da PM de
Curitiba. Seu RG foi dado baixa do Sistema.
Fontes
Ficha e outros documentos sobre Jamil
Jomar de Paula, descobertos pelo autor no Arquivo Nacional - COREG
BR
DFANBSB V8.MIC, GNC.NNN.82002846
Sentença proferida pelo Tribunal de
Júri de Foz do Iguaçu
Inquérito Policial localizado pelo
autor no arquivo da Delegacia da Policia Federal de Foz do Iguaçu
Relatório da Situação Processual
Executória - Tribunal de Justiça do Estado do Paraná
Registro de sepultamento de Rejane
Mariza Dal Bó, no cemitério municipal de
Santa Terezinha de Itaipu
Matéria publicada no Jornal do
Brasil, edição de 27/09/76, página 16
http://memoria.bn.br/pdf/030015/per030015_1976_00172.pdf
Agradeço as informações que recebi de
alguns amigos, pioneiros de Foz do Iguaçu, que fazem questão de se manter no
anonimato.
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