Em 1965, um ano após o golpe militar, eu e o Bernardo Ferraro, companheiro do movimento estudantil, saímos de Niterói para “tomar” a Rádio Coroados, de São Fidélis, cidade do norte do Estado do Rio de Janeiro.
Depois de seis horas de viagem, fomos direto para a rádio, carregando discos, e no bolso, um belo e retumbante discurso, denunciando os ataques sucessivos às liberdades individuais e coletivas.
Já era noite, e no estúdio apenas meu amigo Valdir Vieira, que já me esperava. Alguns dias antes, eu havia combinado com ele, que após rodar algumas músicas de protesto eu iria fazer uma proclamação contra a ditadura. Rodamos a primeira música, Maria Moita, de Carlos Lyra, e assim que comecei com o meu discurso, denunciando as prisões, torturas, cassações de mandatos, intervenções nos sindicatos e entidades estudantis, chegou o dono da rádio com um pedaço de pau na mão e bradando palavrões contra os “comunistas, agitadores e subversivos”. Disse que ia entregar-me para o DOPS, que os militares iam prender-me quando eu chegasse em Niterói.
Juntamos nossos long-plays e disparamos, ainda a tempo de pegar o ônibus para Campos dos Goytacazes e de lá para Niterói.
Depois dessa vez, nunca mais eu vi o Bernardo Ferraro. A gente se desencontrou nos caminhos da Resistência.
Valdir Vieira saiu da rádio de São Fidélis e foi pro Rio, onde se tornou uma celebridade. Durante 15 anos foi campeão de audiência, comandando o Programa Valdir Vieira, da Rádio Globo.
Aluízio Palmar
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