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quarta-feira, 4 de setembro de 2013

XENOFOBIA EM FOZ: A 1ª LINHA DO PRECONCEITO


Danilo Georges*

Xenofobia é o medo irracional, injustificável uma grande aversão, profunda antipatia em relação aos estrangeiros. A desconfiança em relação às pessoas vindas de outros países. Criam-se suspeitas acerca de suas atividades, que justificam a agressão e o forte desejo de eliminar sua indesejável presença para assegurar uma suposta pureza na sociedade.
Em Foz do Iguaçu, há um discurso midiático xenofóbico que tem sido assimilado por uma parcela da comunidade, que por conseqüência comporta-se de forma preconceituosa.
O preconceito é traduzido de forma xenofóbica e desferida contra os estudantes estrangeiros da UNILA. São inúmeros casos de abuso e violência, cometidos por agentes do Estado e comunicadores que deferem ódio e irracionalidade, contra os estrangeiros.
O abuso é sustentado por acusações vazias, como podemos perceber num texto de um tal Péricles viera, publicado na folha de noticias do jornal primeira linha, no dia 29/08/13. “jovens barbados, cabeludos, com roupas sujas, repletos de símbolos comunistas dividem espaço com livros e drogas (...) esse é um dos locais que abrigam estudantes da UNILA”

Acreditar que pode se julgar alguém por sua vestimenta, aparência é no mínimo uma concepção débil. Raspando o cabelo dos cabeludos e colocando terno e gravata nos mal vestidos resolveria o problema?
Que símbolos comunistas seriam esses? Aonde estão? Infelizmente poucos alunos e professores dessa instituição seguem essa orientação política. As drogas estão presente, em todos os meios universitários sejam eles públicos ou particulares. Nas demais instituições não há consumidores de drogas? Discursos como esses servem para naturalizar o preconceito e violência.
Vale recordar que a própria moradia estudantil da UNILA foi invadida no ano passado por policiais militares, resultando em uma ação atabalhoada, estudantes foram presos e violentados, que culminou no afastamento do comandante local da policia militar.
Sabemos que parte dos policiais agem com consentimento de alguns veículos sensacionalistas de comunicação, revestidos e fortalecidos de uma leitura ideológica xenofóbica que criam o consenso, justificando essas ações truculentas.
Essa pratica é no mínimo contraditória, e desmancha um dos principais mitos da cidade. Que existem diversas etnias que convivem harmoniosamente no mesmo espaço.
Uma Parte desses que ‘odeiam’ e apoiam as ações policias contra os estudantes estrangeiros, são jovens brancos de classe media que, por falta de senso critico, desprezam aquilo que um dia seus pais e avós também já foram: estrangeiros recém-chegados, tentando a sorte, em uma cidade que não gosta deles.
Outra parte são trabalhadores que compram a lógica burguesa de demonização das instituições publicas, e mesmo que inconscientemente, despolitizam direitos estudantis assegurados com muita luta e suor em tempos anteriores, como: moradia, transporte e alimentação sendo imprescindível para que se institucionalize uma educação pública, gratuita e de qualidade.
Alguns desses moradores que condenam essa Universidade Federal na cidade, são os mesmos que contraditoriamente gritam aos quatros ventos de que só a educação pode construir um mundo melhor. Que ao invés de lutarem por uma demanda maior de vagas ou de ampliar esses direitos estudantis a todas esferas da educação pública, condenam essa prática.Claro são defensores da privatização do ensino e da sucateamento das escolas e universidades públicas.
O texto afirma que a UNILA tem tirado pessoas “dos piores rincões da América do sul” como se isso fosse ruim, essa atitude deveria ser reproduzida há outros países e estados . A educação publica é um direito universal. Direito esse que não pode ser concebido de maneira individual. Ela demanda sim, um esforço coletivo, e a constituição de direitos políticos ao redor das solidariedades sociais.
Pericles Vieira concebe como malditos e miseráveis esses que se deslocam para Foz do Iguaçu, ora tão propagandeada como uma cidade acolhedora que adora receber estrangeiros. Repudia os pobres que vem aqui estudar, mas sem refletir sob a Pobreza da qual a burguesia é co-responsável. Por explorar terras, trabalho e recursos naturais. Isso mostra o quanto de hipocrisia há no discurso xenofóbico contra os estrangeiros estudando no Brasil.
Quando governos da Bolívia ou do Paraguai propõem rever contratos para tornar menos injusta à relação com o nosso país, parte da opinião pública daqui brada o absurdo, o tamanho dessa ousadia. Que se expressa assim: quem esses pobres sulamenricanos vindo dos mais distantes rincões pensam que são? Iguais a nós? São iguais a nos sim Péricles! Somos todos latino americano.
A classe media se faz de burra, para não perceber que boa parte das roupas que vestimos é feita por imigrantes. Sejam eles bolivianos, paraguaios, colombianos e peruanos que vivem no Brasil e que saem desses rincões da pobreza para serem super-explorados.
Parte deles vivem em situação análoga à escravidão. Mas isso não incomoda os empreendedores e a burguesia local de Foz do Iguaçu. A preocupação deles é outra: quem a burguesia vai explorar? É a partir do labor e exploração dos pobres imigrantes ou residentes da cidade, que nossas gôndolas das lojas e shoppings tanto do lado brasileiro como do lado paraguaio estão cheios de mercadorias.
Não por acaso, são esses locais que a classe média e os burgueses gostam de freqüentar, usufruir e consumir. Enquanto os trabalhadores produtores da riqueza e das mercadorias, não tem acesso as próprias mercadorias que eles produzem,nem da riqueza que geram. Mas isso tudo bem. Péricles Viera naturaliza as leis do mercado.
O contradição maior do texto está na revelação de que crime não está na exploração de mão de obra, no trabalho escravo de imigrantes e sim na garantia a formação, estudo e direito a esses subalternos.
Em todo o mundo, estamos aprendendo a culpar os migrantes de roubar empregos, trazer violência, sobrecarregar os serviços públicos porque é mais fácil jogar a responsabilidade em quem não tem voz ou identidade nacional. Espero que nossa cidade possa ir na contra mão desse exemplo nefasto e irracional. Como morador e professor em Foz do Iguaçu repudio essa falácia e ação xenofobica.
*Historiador, membro do centro de direitos humanos de foz do Iguaçu-pr

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