MEMORIA
E ESQUECIMENTO
Documentos
da ditadura, um legado em confronto ao pacto de silêncio.
Um
mês após a abertura dos arquivos da Polícia Federal, relativos ao período da
ditadura civil-militar, eu fui credenciado pela Secretaria Nacional de Direitos
Humanos, para pesquisar os documentos depositados na Delegacia de Foz do
Iguaçu.
Esse
acesso só foi possível após a assinatura em setembro de 2002 pelo ministro da
Justiça, Paulo de Tarso Ramos Ribeiro, de medida que abriu os arquivos da
Polícia Federal para pesquisadores, familiares de mortos e desaparecidos na
ditadura e membros da Comissão Especial sobre os Mortos e Desaparecidos.
Durante
dois meses vasculhei os mandados de prisão, informes, radiogramas, ofícios
recebidos e expedidos, dossiês, relatórios e outros tipos de documentos
produzidos pela burocracia policial.
Quando
eu entrei no depósito de documentos localizado numa pequena sala da DPF, em
busca de rastros que me levassem à alguns desaparecidos políticos, não esperava
encontrar naquela montoeira de papel, memórias esquecidas, inclusive a minha.
Ao revolver
a documentação guardada em pastas, ou solta em caixas, eu reconstruí minha
historia e trouxe à luz as atividades clandestinas dos serviços de informações da
ditadura civil-militar brasileira.
Naqueles
meses de 2004, na busca aos desaparecidos políticos, eu vasculhei arquivos,
analisei milhares de documentos emitidos pelos órgãos que faziam parte do sistema
repressivo da ditadura e montei várias situações e cenários. Tinha consciência
de que era preciso ter um cuidado especial com os documentos produzidos pela
ditadura. Naqueles escritos havia, tanto informações, como contrainformações,
verdades, exageros e mentiras.
A busca tardia, o acesso
restrito, é resultado da transição negociada e da lei de Anistia esdrúxula, que
além de proporcionar a devolução dos direitos civis e políticos aos perseguidos
pela ditadura, serviu também ao propósito do esquecimento do passado.
E assim chegamos à
situação de hoje; enquanto as vítimas precisam remexer nos arquivos para que
histórias sejam reconstruídas, os algozes e seus cúmplices fazem de tudo para
que o passado permaneça intacto e possam, assim, terminar em paz os seus dias.
Estão normalmente dispostos a pagar a intocabilidade do passado, com o seu
próprio esquecimento pela História.
O filme alemão “Cidade sem passado” retrata muito bem esse
mecanismo.
A obra do diretor Michael Verhoeve tem como tema central a investigação
de uma estudante em busca da verdade sobre a relação dos moradores da
provinciana cidade de Pfilzing com o nazismo. A protagonista busca informações
sobre o passado da cidade, revisitando arquivos e ouvindo versões dos habitantes
sobre o período de ascensão e domínio de Adolf Hitler e do 3º Reich.
A jovem se depara com a dificuldade de obter
informações. As
pessoas que foram ou colaboraram com o nazismo desejam que o passado continue
intocado, e para isso dificultam o trabalho da estudante.
Durante minha pesquisa
no arquivo da Delegacia da Polícia Federal de Foz do Iguaçu eu me senti como a personagem desse clássico do cinema cult.
Ao esmiuçar os quase
vinte mil documentos, buscando pistas que indicassem as circunstâncias das
mortes dos desaparecidos políticos e a localização dos seus restos mortais, eu
tive acesso a um conjunto de documentos que traçam a história do oeste e
sudoeste do Paraná nos últimos trinta anos.
São reclamações,
investigações e inquéritos sobre as “guerras camponesas”, de defesa contra os
despejos executados por jagunços e policiais a soldo de latifundiários. Além
dos documentos sobre as organizações de esquerda e os conflitos pela terra, encontrei
no arquivo da Polícia Federal de Foz do Iguaçu um farto acervo de documentos
sobre questões locais. São histórias de prisões, de resistências, de
dedos-duros, biltres e lambe-botas. Estas vão desde as investigações sobre a
população local até as fofocas políticas.
Durante 21 anos, o
regime militar implantado no Brasil em 1964, prendeu, torturou, exilou e
assassinou àqueles, que ousaram se submeter aos ditames do arbítrio. O Estado
Policial chegou ao seu mais alto grau de terror na década de 70, quando todo o
País foi entregue à sanha dos caçadores de bruxas. Era comum haver agentes
policiais infiltrados nas escolas, nos ambientes de trabalho e, sobretudo, nos
órgãos de comunicação, que, por serem formadores de opinião, sofriam uma
vigilância redobrada.
Essas ações tinham
como base ideológica a Doutrina de Segurança Nacional que concebia a guerra
total, no contexto da Guerra Fria, onde os países eram pressionados a se
posicionarem entre os Estados Unidos da América – a maior potência capitalista,
e a União Soviética.
Foi um tempo de bipolaridade,
da clara divisão de dois modelos de sociedade: “nós” versus “eles”,
capitalistas versus comunistas.
Analisando o
conteúdo dos arquivos das ditaduras, hospedados nos arquivos estaduais, na
Coordenação Regional do Arquivo Nacional em Brasília - Coreg e no projeto
Brasil Nunca Mais, nota-se uma intensa mobilização dos órgãos de segurança do
Estado na busca aos “inimigos internos”, mas também uma troca constante de
informações com suas congêneres de outros países.
A memória sombria resgatada para a luz
A minha incursão pelos
documentos da delegacia da Polícia Federal de Foz do Iguaçu proporcionou
descobertas importantes, reguardadas dos olhares curiosos e estranhos aos
órgãos policiais. Graças a autorização
que recebi na época descobri informações “guardadas a sete chaves” ou perdidas,
como, por exemplo, os documentos da Assessoria Especial de Segurança e Informações
da Itapu que foram incineradas pelos então dirigentes da hermética empresa Binacional.
A AESI da empresa
binacional, comandada por militares reformados, possuía uma radiografia
completa de cada funcionário e trabalhava em conjunto com o Centro de
Informações do Exército, especificamente com a 2ª Seção - Serviço Secreto do então
1º Batalhão de Fronteira, hoje 34º BiMtz; com os serviços de informações das
polícias Federal e Militar; com o Centro de Informações da Marinha – Cenimar;
com o Centro de Informações e Segurança da Aeronáutica – Cisa e Serviço
Nacional de Informações- SNI.
As fichas preenchidas
pelos candidatos a emprego eram enviadas pela Itaipu para análise de todos
esses órgãos que compunham o sistema de repressão da ditadura. No decorrer do
meu trabalho no arquivo da PF me deparei com diversos casos de pessoas que
tiveram seus pedidos de emprego negados por terem tido alguma atividade no
movimento sindical ou estudantil.
Apesar de todos estes
cuidados e do clima de terror implantado pelos beleguins do então diretor geral
brasileiro, general Costa Cavalcanti, no dia 28 de outubro de 1975, um grupo de
operários iniciou uma greve de fome no Canteiro de Obras de Itaipu, em protesto
“contra a péssima alimentação” que era servida. O movimento foi reprimido e 35
operários foram demitidos para “servir como exemplo e impedir novas
demonstrações de rebeldia”.
A greve de fome durou
três dias e começou entre os operários da subempreiteira Vila Rica, que por sua
vez prestava serviços a empreiteira Adolpho Lindemberg. Foi um movimento
espontâneo e pegou toda a direção de surpresa. Roberto Helbling, um militar
reformado, escolhido a dedo para dirigir o setor de segurança da Obra, ficou
sem ação e pediu ajuda ao SNI.
De Brasília, veio a
ordem de chamar o general Adalberto Massa, delegado Regional do Trabalho no
Paraná. A presidência da República tinha receio que os grevistas fossem
reprimidos no cacete e a imprensa tomasse conhecimento do que estava
acontecendo “entre os muros” da construção da grande usina.
O general Massa baixou
em Foz no segundo dia de greve e foi do aeroporto diretamente para o Hotel
Bourbon, onde já se encontravam reunidos para avaliar a situação o general
Costa Cavalcanti, Helbling e o general Junot Rebelo Guimarães, chefe da
Segurança Física da Itaipu.
Nessa reunião, o general
Costa Cavalcanti sugeriu que a greve fosse reprimida de forma exemplar “para
acabar definitivamente com os focos comunistas” dentro de “sua obra”. Momentos
antes, Helbling havia informado que recebera radiogramas dos órgãos de
informações comunicando que nenhum dos grevistas era fichado por atividade
política ou sindical.
Por fim foi acolhida a
proposta do general Massa, que consistia na demissão sumária e exemplar de
todos os líderes do movimento a começar por Miguel Alcanis Gimenez, que havia
se apresentado como porta-voz dos grevistas. O principal argumento do Delegado
Regional do Trabalho foi de que uma repressão física, com prisões dos
grevistas, poderia vazar para a imprensa internacional e desabonar a imagem que
a empresa binacional estava construindo no exterior.
No dia trinta de outubro
de 1975, três após o início da greve de fome, 35 operários da construtora Vila
Rica foram sumariamente demitidos e enviados às suas cidades de origem.
Ainda sobre violações
cometidas durante a construção da Hidrelétrica de Itaipu, chamou minha atenção
um calhamaço em cuja capa estava escrito em caixa alta: Paulo José Dias.
Pensei tratar-se de
militante de alguma organização da resistência à ditadura. Porém, era uma ampla
investigação sobre um cidadão que, depois de tomar uns tragos num bar em Foz do
Iguaçu, falou alguma coisa que desagradou um oficial do exército que se
encontrava no local.
Paulo José Dias era
topógrafo e trabalhava para a Planta Engenharia S/A, consorciada da Matrix
Engenharia S/A, empresa designada para fazer o cadastro de implantação do
Canteiro de Obras da barragem de Itaipu.
No final do expediente,
Paulo José deu a habitual passada pelo Bar Garfo de Ouro. Lá pelas tantas,
deitou falação contra o militarismo e disse que era um absurdo em pleno século
XX a humanidade resolver seus problemas na base da guerra. Um oficial do
Batalhão não gostou e disse para o topógrafo que ele estava ofendendo o
Exército Brasileiro. O militar tentou ainda prendê-lo, mas ele deu um safanão e
dirigiu-se ao quarto da pensão onde encontrava-se hospedado.
Levantou de ressaca no
dia seguinte e foi até o bar mais próximo para rebater o porre da véspera.
Bebeu uma dose de rum e retornou ao hotel para tomar um banho. Ao chegar, um
policial, que já o esperava, levou-o para a delegacia de polícia onde foi
rigorosamente interrogado. Queriam que ele confessasse que era comunista e
membro de organização subversiva infiltrada na obra de Itaipu.
Da Civil foi conduzido
para a Delegacia da Polícia Federal, onde dormiu na cela, depois de nova
qualificação e interrogatório. No dia seguinte foi levado para o Batalhão de
Fronteiras, onde ficou três semanas no xadrez. Durante este período ele passou
por novos interrogatórios e ameaças de tortura.
Naquela época ainda
havia no Batalhão um cubículo com diversos aparelhos de tortura. Os últimos
presos supliciados na “sala de terror” foram os professores Luiz e Izabel
Fávero. Aconteceu em 1969. Ela encontra-se grávida e abortou depois de uma
sessão de choques elétricos.
Os militares estavam convencidos que Paulo José era um perigoso subversivo, membro de alguma célula comunista existente no Canteiro de Obras. Para tanto eles amparavam-se em informações fornecidas pelo Centro de Informações do Exército- CIE, que davam conta que um colega do topógrafo na Usiminas havia sido preso como subversivo em 1964.
Os militares estavam convencidos que Paulo José era um perigoso subversivo, membro de alguma célula comunista existente no Canteiro de Obras. Para tanto eles amparavam-se em informações fornecidas pelo Centro de Informações do Exército- CIE, que davam conta que um colega do topógrafo na Usiminas havia sido preso como subversivo em 1964.
Outro dado também
considerado importante pelos militares era de que uma tia de Paulo José era
casada com o tio do padre Geraldo da Cruz, preso em 1967 por ser membro de uma
congregação religiosa “suspeita de subversão”.
Apesar de não terem
nenhum motivo para manter o topógrafo preso, os militares o mantiveram no
xadrez durante 22 dias. Por ultimo foi fichado como subversivo e demitido da
Planta Engenharia S.A.
Essa minha incursão pelo
arquivo da Policia Federal de Foz do Iguaçu, mostrou o alcance da máquina
repressiva, que abrangeu todo o território nacional, atingindo inclusive, pessoas
que não tinham nenhum envolvimento com os movimentos de resistência á
ditadura.
O Estado Policial estava
ali, registrado naqueles milhares de documentos guardados em pastas e caixas de
papelão.
É o caso de Waldomiro de
Deus Pereira, que em setembro de 1974 abriu em Foz do Iguaçu um jornal tamanho
standard e impresso no sistema offset.
A edição única do Jornal
Binacional, que circulou em 18 de setembro de 1974, dedicou seis de suas dez
páginas a situação dos agricultores que tiveram suas terras desapropriadas na
localidade de Santo Alberto, situada nas proximidades do Parque Nacional do
Iguaçu.
“Expropriados pedem sindicância federal”, foi
a manchete de capa acompanhada de um texto em que a direção do jornal fez
questão de dizer que a pretensão da matéria “não era de contestar a ação do
governo em desapropriar a área da antiga Gleba Silva Jardim, nem tampouco
criticar ou fazer restrições, já que a confiança no Governo da Revolução é
irrestrita”.
Depois dessa alisada no
governo dos generais, o jornal criticou a forma como estava sendo feita a
desapropriação dos pequenos proprietários pelo INCRA. Esses colonos, quase
todos pioneiros de Foz do Iguaçu, estavam sendo tirados de suas propriedades e
transferidos para o Projeto Integrado de Colonização, PIC-OCOI, em São Miguel
do Iguaçu. Enquanto as benfeitorias eram pagas por um terço do seu valor e as
terras com títulos da dívida pública, as novas propriedades no PIC-OCOI eram
vendidas aos colonos com financiamento a juro de mercado.
Não deu outra, a matéria
não agradou os militares e Waldomiro foi intimado a comparecer ao Batalhão. Lá,
ele foi severamente interrogado. Queriam saber se o movimento de resistência
dos colonos era orientado por organizações subversivas.
Depois de ficharem o
jornalista, mandaram que ele juntasse seus pertences e fosse embora da cidade.
Os órgãos de informações continuaram controlando os passos do jornalista e a
última anotação sobre ele no arquivo da PF data de 24 de fevereiro de 1975 e
diz que Waldomiro estava trabalhando naquela ocasião no jornal Tribuna de
Cianorte.
Das assessorias de informação instaladas nas
companhias estatais, autarquias e órgãos da administração direta, a AESI da
Itaipu Binacional foi uma das mais poderosas. Minhas pesquisas feitas na Delegacia da
Polícia Federal em Foz do Iguaçu, no Arquivo do DOPS do Paraná e no Centro de Documentación y Archivo para
la Defensa de los Derechos Humanos del Palacio de Justicia, no
Paraguai, também conhecido como Arquivo do Terror, mostram a estreita
colaboração das empreiteiras responsáveis pela construção da usina hidrelétrica
de Itaipu na caça, espionagem, repressão e assassinatos de cidadãos brasileiros
e paraguaios, e também uruguaios e argentinos, no decorrer das ditaduras do
Cone Sul.
Essas pesquisas revelam que de 1973 a 1988 Itaipu foi um reduto
de militares e policiais torturadores, que atuavam nos diversos órgãos criados
para salvaguardar o regime.
Durante a ditadura, as Assessorias Especiais de Segurança e
Informações - AESIs, vinculadas à Divisão de Segurança e Informações - DSI e
subordinadas ao Serviço Nacional de Informações - SNI atuavam em instituições
públicas como universidades, autarquias e empresas estatais.
Ao contrário das AESIs localizadas nas universidades, que se
ocupavam somente da espionagem e da delação, a AESI de Itaipu foi também um
braço armado da ditadura militar. É mais um exemplo do que poderíamos chamar a
dimensão molecular do terrorismo de Estado, seus desdobramentos cotidianos no
bojo do próprio projeto de “desenvolvimento nacional” impulsionado pelos
militares.
A AESI instalada na Usina de Itaipu manteve comunicação
constante com os serviços de inteligência das ditaduras do cone sul.
Durante minha pesquisa no arquivo da Polícia
Federal, encontrei cópias de alguns documentos que comprovam a participação dos
militares que atuavam no Centro de Informações do Exército e na Assessoria
Especial de Informações de Itaipu, no sequestro e morte de Agostín Goiburú.
Como meu acesso ao arquivo da PF aconteceu numa
condição excepcional, não me foi permitido fazer cópias dos documentos, mas nos
três meses que durou minha pesquisa eu enchi três cadernos com anotações que
considerei relevantes.
Nas páginas registrei diversos documentos que
provam a participação da Itaipu na Operação Condor. Um exemplo é o informe
031/76, de 15/12/76, enviado pela AESI brasileira à sua similar paraguaia.
Atendendo ao pedido de seus colegas paraguaios, os beleguins do general Costa
Cavalcanti puseram os seus agentes no encalço do médico ortopedista e dirigente
do Movimento Popular Colorado - Mopoco, Agostín Goiburú Gimenez.
Dois meses após a AESI/Itaipu ter enviado o relatório aos militares paraguaios, Goiburú, que estava asilado na Argentina, desapareceu após visitar seus amigos que moravam em Foz do Iguaçu. Anos mais tarde o professor paraguaio Martin Almada descobriu durante pesquisa no arquivo da polícia de Stroessner, que Agostín Goiburú havia sido sequestrado e levado para o Paraguai, onde foi torturado até a morte no Regimento Escolta Presidencial, em Assunção.
Dois meses após a AESI/Itaipu ter enviado o relatório aos militares paraguaios, Goiburú, que estava asilado na Argentina, desapareceu após visitar seus amigos que moravam em Foz do Iguaçu. Anos mais tarde o professor paraguaio Martin Almada descobriu durante pesquisa no arquivo da polícia de Stroessner, que Agostín Goiburú havia sido sequestrado e levado para o Paraguai, onde foi torturado até a morte no Regimento Escolta Presidencial, em Assunção.
Três anos antes quatro amigos de Goiburú foram sequestrados em
Foz do Iguaçu. Uma operação executada na calada da noite prendeu, no dia 1º de
dezembro de 1974, Rodolfo Mongelos, Cesar Cabral, Anibal Abbatte Soley e
Alejandro Stumpfs, levados pelos comandos compostos por militares para um local
clandestino do Exército, situado no Estado de Goiás.
Mais tarde, soube-se que a AESI da Itaipu Binacional atuou
nessas operações a partir de um entendimento entre as ditaduras do Brasil e
Paraguai, sócias na construção da Usina Hidrelétrica.
O ano era 1974. No Paraguai, embalado pelo acordo para a
construção da Hidrelétrica de Itaipu, o general Alfredo Stroessner aumentava
seus poderes de chefe supremo da Nação.
Segundo matéria de Jose Maschio para a Agência Folha “o Serviço
de Investigação do Paraguai, acusava os quatro de fazer parte de um plano para
executar Stroessner. Os financiadores seriam empresários paraguaios radicados
em Foz do Iguaçu”.
Os empresários acusados eram Rodolfo Mongelos, Alejandro Stumpfs
e Aníbal Abbate Soley, todos integrantes do governo provisório no exílio do
Movimento Popular Colorado – Mopoco.
No dia 25 de novembro de 19744 foram presos e assassinados na
tortura, os ativistas Carlos Mancuello, Amílcar Oviedo e os irmãos Benjamim
Ramirez Villalba e Rodolfo Ramirez Villalba.
Uma semana após essas prisões ocorridas em Assunção, o Centro de
Informações do Exercito e a Assessoria de Informações da Itaipu fizeram um
levantamento meticuloso dos hábitos e rotina dos paraguaios exilados em Foz do
Iguaçu. A partir desse relatório a ditadura brasileira atendeu o pedido do
general Stroessner, para prender Cabral, Soley, Stumpfs e Mongelos. O
comandante da operação era um certo Luchessi, mais tarde identificado pelos
quatro presos como Sebastião Curió, quadro estratégico da repressão, que havia
comandado tropas do Exército na Operação Araguaia.
Depois de grande pressão internacional, eles foram soltos sob a condição
foi que os presos de não voltarem a Foz do Iguaçu num prazo de dois anos.
Memória e esquecimento
Boa parte desses achados, registrados em milhares de documentos,
foram “extraviados” na transferência do arquivo da Delegacia da Policia Federal
de Foz do Iguaçu para Brasília. Apesar das várias denúncias que eu fiz desse
ato criminoso, nenhuma medida foi tomada para apurar responsabilidades.
A falta de uma política arquivística, ou melhor, a política do
esquecimento, tão claramente enunciada na chamada Lei de Anistia, tem sido
responsável pela perda de documentos importantes para a reconstrução de
histórias pessoais e construção de memórias sociais.
Um caso exemplar é esse desaparecimento de parte da documentação
que compunha o acervo que eu encontrei depositado na delegacia da Policia
Federal de Foz do Iguaçu. Levei esse caso ás autoridades dos quatro poderes. Todos
me ouviram, e apesar de anotarem e espernearem, não deram a sequencia necessária.
Eu esperava, pelo menos a formalidade da abertura de sindicância.
Aliás,
esse desmazelo com os documentos emitidos pela repressão eu encontrei na
Delegacia Regional de Policia Federal de Pernambuco, e nas Superintendências da
Sudene e do Incra, nesse mesmo Estado.
Na
DPF de Pernambuco, a cúpula local composta de diretor, vice-diretor e o chefe
do setor de informações, disseram pra mim e para Maria Esperança de Resende,
chefe do Coreg no Distrito Federal, disseram que não havia no local nenhum
documento do período da ditadura. Diante de nossa insistência foi liberada
nossa visita ao arquivo geral, onde localizamos entre diversos materiais
apreendidos, pastas contendo documentos do período. Todos em deploráveis
condições de conservação.
Diante
da falta de interesse dos órgãos governamentais em relação aos acervos do
período da ditadura, eu Imagino que essa remontagem dos contextos históricos
interessa somente aos sobreviventes que não se submeteram a política de
esquecimento.
Apenas
recentemente, as pesquisas sobre as ditaduras instaladas no subcontinente
americano nas décadas de 60 e 70 estão saindo dos grupos restritos aos
ambientes universitários e daqueles compostos por sobreviventes e familiares
das pessoas atingidas pela ditadura. Ultimamente há um despertar nas academias
e tem sido cada vez maior o número de estudiosos que buscam entender como a
questão da memória se coloca na sociedade brasileira, onde as disputas sociais
parecem sempre terminar em pactos que trazem como pressuposto o silêncio sobre
o passado.
É
comum ouvir pessoas dizerem que é preciso enterrar esse passado de governos
tiranos. Inclusive alguns familiares de vítimas da ditadura não querem falar
sobre o período. Em minhas andanças pelo interior do Paraná deparei com medos e
silêncios de familiares das pessoas presas durante as razzias de 1964 e 1965, em que foram presas pessoas acusadas de
pertencerem aos “grupos dos onze”.
Construiu-se
a sociedade do medo e do silêncio, onde prevalece o calar-se e fingir que não
aconteceu, ou que todos os crimes divulgados fazem parte de ideologias
partidárias ou resquícios de ações ‘comunistas’. Este silêncio brasileiro,
também revela a própria dificuldade das pessoas falarem sobre o assunto por ser
algo que as toca de uma forma negativa, pois o que é humano atinge, fere, mesmo
sem que a pessoa seja testemunha ocular dos fatos. Mais do que isso, admitir
que o horror aconteceu aqui também implicaria assumir parcela de culpa que cada
um tem: culpa por trancarem-se em suas casas e preocuparem-se apenas com sua
rotina, mesmo vendo seus vizinhos serem presos, sumirem ou serem mortos.
A
cultura do medo gerou cautela, silêncios, - e a impunidade dos agentes
repressivos aumenta este medo. Os silêncios tornam-se ausência de conflitos.
Mas o silêncio também é criminoso. Ele não vem para trazer a paz, ele vem para
impor um modelo de sociedade do medo.
Eu
tenho duas frases estampadas no topo de meu blogue. Uma é do escritor tcheco Milan
Kundera, que diz: “A luta pela verdade é a luta contra o esquecimento”. A outra
é de Hannah Arend: “O futuro da tortura está indissoluvelmente ligado ao futuro
do torturador”.
Essa
articulação do passado com a ação política do presente é fundamental para que
não se repitam os erros do passado. A ruptura entre passado e futuro,
proporciona sempre soluções arbitrárias para os problemas sociais, além de
perpetuar a criminalização dos movimentos sociais, os informes e inquéritos
escritos com a linguagem herdada do período da ditadura.
Aliás,
muitos desses documentos procedentes dos órgãos de repressão são estapafúrdios.
Cito meu caso, em que um informe de autoria do CIE registra minha morte ou que
eu havia me asilado na Dinamarca.
Esses
documentos possuem em sua parte superior o nome do órgão emissor e o destino
das difusões. Aliás, graças a essas trocas de cópias entre os órgãos de repressão
tem sido possível localizar documentos antes considerados perdidos, ou melhor,
destruídos.
No
arquivo descoberto na DPF de Foz do Iguaçu, encontrei documentos elucidativos
de casos de desaparecimentos e mortes em tortura. Apesar de haver uma circular
determinando a incineração dos mesmos o órgão policial da fronteira, talvez por
negligência não cumpriu a ordem vinda de Brasília.
O serviço secreto da ditadura
Após analisar
milhares de documentos durante sua permanência na Coordenação Regional do
Arquivo Nacional no Distrito Federal – Coreg, a historiadora Vivien Ishaq
afirmou ter ficada surpreendida com o numero de pessoas espionadas pelos
serviços de inteligência da ditadura.
Em seu texto “O Serviço Secreto da Ditadura”,
Vivien faz um histórico e detalha a estrutura repressiva. Segundo a
historiadora:
“O SNI surgiu como um órgão da Presidência da
República com a missão de coordenar, em todo o território nacional e no
exterior, as atividades de informação e contrainformação e subsidiar o Conselho
de Segurança Nacional - CSN.
Em 1970, o SNI passou a fazer parte de uma estrutura maior, o Sistema Nacional de Informações. O SiSNI era formado por uma ampla rede de órgãos responsáveis por monitorar a administração pública e a sociedade em geral. Além do SNI, a rede contava com unidades que se dividiam em dois ramos, um civil e outro militar.
O braço civil era composto pelo Sistema Setorial de Informações dos Ministérios Civis - SSIMC, ao qual estavam ligadas as Divisões de Segurança e Informações - DSI de cada ministério e as Assessorias de Segurança e Informações - ASI, responsáveis por monitorar órgãos da administração indireta, autarquias e universidades. O setor civil do SiSNI era complementado pelas Assessorias Especiais de Segurança e Informações AESI, que funcionavam em empresas estatais e em algumas universidades.
O braço militar era formado pelo Subsistema de Informações Estratégicas Militares - SuSIEM e pelo Sistema Setorial de Informações dos Ministérios Militares - SSIMM. O SuSIEM era subordinado à 2ª Subchefia do Estado-Maior das Forças Armadas e englobava os setores de informação - Segundas Seções dos Estados-Maiores de cada uma das três armas - Exército, Marinha e Aeronáutica -, além do Centro de Informações do Exterior - CIEx, responsável por monitorar as atividades de brasileiros em outros países. Já o SSIMM era composto pelos serviços de inteligência dos ministérios militares, que eram alimentados por seus respectivos centros de informações: Centro de Informações da Marinha - Cenimar, Centro de Informações do Exército – CIE e Centro de Informações e Segurança da Aeronáutica - Cisa.
O próprio SNI tinha diferentes estruturas internas. A Agência Central era a principal instância do órgão e coordenava as atividades de inteligência do SiSNI. Foi estabelecida inicialmente no Rio de Janeiro e transferida para Brasília em 1967. Era chefiada por um general de exército e estava diretamente subordinada ao ministro-chefe do SNI.
Esse escritório central era abastecido pelas Agências Regionais, núcleos do SNI criados nas principais capitais do país e chefiados por um oficial superior, em geral um coronel de exército, com quadros compostos por pessoal requisitado de diferentes órgãos do serviço público federal, estadual e municipal. Em 1988, 12 cidades brasileiras contavam com agências regionais do órgão: Rio de Janeiro, São Paulo, Belém, Manaus, Porto Alegre, Recife, Belo Horizonte, Campo Grande, Curitiba, Fortaleza, Salvador e Goiânia.
Desde seu surgimento até a extinção, em 1990, o SNI foi chefiado pelos generais Golbery do Couto e Silva, Emílio Garrastazu Médici, Carlos Alberto da Fontoura, João Batista Figueiredo, Otávio Aguiar de Medeiros e Ivan de Sousa Mendes. De certo modo, a eficiência do órgão deveu-se à obediência aos preceitos da hierarquia e da centralização sistêmica. O ministro-chefe era, em geral (com exceção de Golbery), um general de exército; a Agência Central era comandada por um general de divisão e as agências regionais, por um oficial superior (tenente-coronel ou coronel). Já os centros de informações das Forças Armadas eram chefiados por um general de brigada, e as Divisões de Segurança e Informações - OSI e as Assessorias de Segurança e Informações - ASI, por um oficial superior. Assim, a cadeia de comando militar estava no cerne da organização do SNI e de toda a comunidade de informações.
A função principal do órgão era assessorar o presidente da República, mas o SNI desempenhava várias outras tarefas, como acompanhar a execução dos planos e diretrizes governamentais, avaliando sua repercussão na opinião pública nacional e internacional; aprovar e fiscalizar a organização e a estrutura dos órgãos que compunham o SiSNI (com exceção dos ministérios militares e do Estado-Maior das Forças Armadas); aprovar os planos setoriais de informação dos ministérios civis; realizar levantamentos estratégicos; e fazer a ponte entre órgãos de informação federais, estaduais, municipais e até privados.
A formação de quadros do SNI e de outros órgãos da comunidade de informações ficava a cargo da Escola Nacional de Informações - EsNI, criada em maio de 1971, em Brasília, e estava subordinada diretamente à Presidência da República e ao ministro-chefe do SNI. A escola oferecia aos órgãos do SiSNI 25 cursos para funcionários de nível médio e superior, tais como contraespionagem, contrainformação, operações, análise de propaganda, segurança das comunicações, defesa contra entrada e retrato falado, entre outros. Estima-se que a escola tenha formado cerca de dois mil agentes até sua extinção, em 1990.
Os agentes do SNI formados pela EsNI produziam relatórios com informações e avaliações sobre o governo e o setor público em geral, relatórios externos com dados diversos sobre "países antagônicos" e "países amigos" os denominados relatórios psicossociais, que analisavam o comportamento dos principais agentes e instituições da sociedade, como igrejas, sindicatos, entidades estudantis, imprensa e movimentos sociais.
Assim, ao longo da existência do SNI, seus agentes produziram milhares de páginas com informações sobre pessoas e instituições, que foram organizadas em dossiês e inseridas no banco de dados do Sistema de Arquivamento e Recuperação de Documentos para Informação - Sardi. Esse banco de dados, por sua vez, englobava outras 19 bases de dados: 14 referentes às informações coletadas pela Agência Central e agências regionais, duas com os registros de Levantamento de Dados Biográficos - LDB da Agência Central e duas contendo os registros de Prontuários - PRT, também da Agência Central.
Por fim, a última base de dados do SNI, denominada Cadastro Nacional, era consultada pelos órgãos da administração pública, sendo utilizada, por exemplo, para avaliação dos candidatos à admissão e promoção na administração pública, uma vez que a base continha informações sobre a posição ideológica dos investigados. Muitas das punições impostas pelo regime militar decorreram das recomendações ou informações produzidas pelo órgão. Esse volume gigantesco de dados era acessado pelos agentes em terminais de vídeo, que apresentavam uma descrição sumária do conjunto dos documentos, visando uma rápida visualização das informações solicitadas.
Com o fim da ditadura militar e a promulgação da Constituição de 1988, foram revogados os dispositivos legais incompatíveis com um regime democrático, como o Decreto nº 79.099, de 1977, que isentava oficiais do SNI de prestar contas à polícia ou à Justiça sob o pretexto de salvaguardar as atividades ligadas à Segurança Nacional.
Ainda em 1988, foi aprovado o novo regimento do órgão pelo Decreto nº 96.876. Nessa época, a EsNI continuava formando agentes para o serviço secreto. No entanto, cumprindo uma promessa de campanha, o presidente Fernando Collor de Mello extinguiu o SNl por meio da Medida Provisória nº 150, de 1990, atribuindo à Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República – SAElPR as funções que não foram transferidas.
Em 1970, o SNI passou a fazer parte de uma estrutura maior, o Sistema Nacional de Informações. O SiSNI era formado por uma ampla rede de órgãos responsáveis por monitorar a administração pública e a sociedade em geral. Além do SNI, a rede contava com unidades que se dividiam em dois ramos, um civil e outro militar.
O braço civil era composto pelo Sistema Setorial de Informações dos Ministérios Civis - SSIMC, ao qual estavam ligadas as Divisões de Segurança e Informações - DSI de cada ministério e as Assessorias de Segurança e Informações - ASI, responsáveis por monitorar órgãos da administração indireta, autarquias e universidades. O setor civil do SiSNI era complementado pelas Assessorias Especiais de Segurança e Informações AESI, que funcionavam em empresas estatais e em algumas universidades.
O braço militar era formado pelo Subsistema de Informações Estratégicas Militares - SuSIEM e pelo Sistema Setorial de Informações dos Ministérios Militares - SSIMM. O SuSIEM era subordinado à 2ª Subchefia do Estado-Maior das Forças Armadas e englobava os setores de informação - Segundas Seções dos Estados-Maiores de cada uma das três armas - Exército, Marinha e Aeronáutica -, além do Centro de Informações do Exterior - CIEx, responsável por monitorar as atividades de brasileiros em outros países. Já o SSIMM era composto pelos serviços de inteligência dos ministérios militares, que eram alimentados por seus respectivos centros de informações: Centro de Informações da Marinha - Cenimar, Centro de Informações do Exército – CIE e Centro de Informações e Segurança da Aeronáutica - Cisa.
O próprio SNI tinha diferentes estruturas internas. A Agência Central era a principal instância do órgão e coordenava as atividades de inteligência do SiSNI. Foi estabelecida inicialmente no Rio de Janeiro e transferida para Brasília em 1967. Era chefiada por um general de exército e estava diretamente subordinada ao ministro-chefe do SNI.
Esse escritório central era abastecido pelas Agências Regionais, núcleos do SNI criados nas principais capitais do país e chefiados por um oficial superior, em geral um coronel de exército, com quadros compostos por pessoal requisitado de diferentes órgãos do serviço público federal, estadual e municipal. Em 1988, 12 cidades brasileiras contavam com agências regionais do órgão: Rio de Janeiro, São Paulo, Belém, Manaus, Porto Alegre, Recife, Belo Horizonte, Campo Grande, Curitiba, Fortaleza, Salvador e Goiânia.
Desde seu surgimento até a extinção, em 1990, o SNI foi chefiado pelos generais Golbery do Couto e Silva, Emílio Garrastazu Médici, Carlos Alberto da Fontoura, João Batista Figueiredo, Otávio Aguiar de Medeiros e Ivan de Sousa Mendes. De certo modo, a eficiência do órgão deveu-se à obediência aos preceitos da hierarquia e da centralização sistêmica. O ministro-chefe era, em geral (com exceção de Golbery), um general de exército; a Agência Central era comandada por um general de divisão e as agências regionais, por um oficial superior (tenente-coronel ou coronel). Já os centros de informações das Forças Armadas eram chefiados por um general de brigada, e as Divisões de Segurança e Informações - OSI e as Assessorias de Segurança e Informações - ASI, por um oficial superior. Assim, a cadeia de comando militar estava no cerne da organização do SNI e de toda a comunidade de informações.
A função principal do órgão era assessorar o presidente da República, mas o SNI desempenhava várias outras tarefas, como acompanhar a execução dos planos e diretrizes governamentais, avaliando sua repercussão na opinião pública nacional e internacional; aprovar e fiscalizar a organização e a estrutura dos órgãos que compunham o SiSNI (com exceção dos ministérios militares e do Estado-Maior das Forças Armadas); aprovar os planos setoriais de informação dos ministérios civis; realizar levantamentos estratégicos; e fazer a ponte entre órgãos de informação federais, estaduais, municipais e até privados.
A formação de quadros do SNI e de outros órgãos da comunidade de informações ficava a cargo da Escola Nacional de Informações - EsNI, criada em maio de 1971, em Brasília, e estava subordinada diretamente à Presidência da República e ao ministro-chefe do SNI. A escola oferecia aos órgãos do SiSNI 25 cursos para funcionários de nível médio e superior, tais como contraespionagem, contrainformação, operações, análise de propaganda, segurança das comunicações, defesa contra entrada e retrato falado, entre outros. Estima-se que a escola tenha formado cerca de dois mil agentes até sua extinção, em 1990.
Os agentes do SNI formados pela EsNI produziam relatórios com informações e avaliações sobre o governo e o setor público em geral, relatórios externos com dados diversos sobre "países antagônicos" e "países amigos" os denominados relatórios psicossociais, que analisavam o comportamento dos principais agentes e instituições da sociedade, como igrejas, sindicatos, entidades estudantis, imprensa e movimentos sociais.
Assim, ao longo da existência do SNI, seus agentes produziram milhares de páginas com informações sobre pessoas e instituições, que foram organizadas em dossiês e inseridas no banco de dados do Sistema de Arquivamento e Recuperação de Documentos para Informação - Sardi. Esse banco de dados, por sua vez, englobava outras 19 bases de dados: 14 referentes às informações coletadas pela Agência Central e agências regionais, duas com os registros de Levantamento de Dados Biográficos - LDB da Agência Central e duas contendo os registros de Prontuários - PRT, também da Agência Central.
Por fim, a última base de dados do SNI, denominada Cadastro Nacional, era consultada pelos órgãos da administração pública, sendo utilizada, por exemplo, para avaliação dos candidatos à admissão e promoção na administração pública, uma vez que a base continha informações sobre a posição ideológica dos investigados. Muitas das punições impostas pelo regime militar decorreram das recomendações ou informações produzidas pelo órgão. Esse volume gigantesco de dados era acessado pelos agentes em terminais de vídeo, que apresentavam uma descrição sumária do conjunto dos documentos, visando uma rápida visualização das informações solicitadas.
Com o fim da ditadura militar e a promulgação da Constituição de 1988, foram revogados os dispositivos legais incompatíveis com um regime democrático, como o Decreto nº 79.099, de 1977, que isentava oficiais do SNI de prestar contas à polícia ou à Justiça sob o pretexto de salvaguardar as atividades ligadas à Segurança Nacional.
Ainda em 1988, foi aprovado o novo regimento do órgão pelo Decreto nº 96.876. Nessa época, a EsNI continuava formando agentes para o serviço secreto. No entanto, cumprindo uma promessa de campanha, o presidente Fernando Collor de Mello extinguiu o SNl por meio da Medida Provisória nº 150, de 1990, atribuindo à Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República – SAElPR as funções que não foram transferidas.
Em cada ministério civil e em seus órgãos
vinculados deveria ser organizada uma DSI, ligada ao gabinete do ministro, com
o objetivo de ser uma estrutura setorial de informação. Eram chefiadas por um
oficial superior, geralmente ocupante do posto de coronel de exército. Em maio
de 1970, as DSI passaram à subordinação do Serviço Nacional de Informações -SNI,
e não mais à Secretaria Geral do Conselho de Segurança Nacional - CSN, fato
reforçado pelo Decreto nº 75.640, de 22 de abril de 1975, definindo que as DSI
integrariam o Sistema Nacional de Informações - SiSNI.
A Assessoria de Segurança e Informações (ASI) era um órgão setorial de informação existente na administração indireta e autarquias: em universidades,empresas estatais como Telebrás, Petrobras, Correios, entre outras. As assessorias foram organizadas pelo Decreto nº 60.940, de 1967, que criou também nos ministérios e órgãos vinculados as Divisões de Segurança e Informações - DSI.
A Assessoria Especial de Segurança e Informações – AESI existia em empresas como o Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social - lnamps, Departamento Administrativo do Serviço Público - Dasp, Instituto Nacional de Previdência Social - lNPS e Itaipu Binacional. Suas chefias eram exercidas por generais ou oficiais superiores da reserva.
Organograma do Sistema Nacional de Informaçoes:
A Assessoria de Segurança e Informações (ASI) era um órgão setorial de informação existente na administração indireta e autarquias: em universidades,empresas estatais como Telebrás, Petrobras, Correios, entre outras. As assessorias foram organizadas pelo Decreto nº 60.940, de 1967, que criou também nos ministérios e órgãos vinculados as Divisões de Segurança e Informações - DSI.
A Assessoria Especial de Segurança e Informações – AESI existia em empresas como o Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social - lnamps, Departamento Administrativo do Serviço Público - Dasp, Instituto Nacional de Previdência Social - lNPS e Itaipu Binacional. Suas chefias eram exercidas por generais ou oficiais superiores da reserva.
Organograma do Sistema Nacional de Informaçoes:
A rede era composta pelos seguintes setores:
Serviço Nacional de Informações - SNI - Coordenava a rede a partir de sua Agência Central -AC e mantinha Agências Regionais em 12 capitais estaduais.
Sistema Setorial de Informações dos Ministérios Civis - SSIMC - Braço civil da rede, formado pelas Divisões de Segurança e Informações – DSI- dos ministérios e pelas Assessorias de Segurança e Informações - ASI de autarquias e universidades.
Sistema Setorial de Informações dos Ministérios Militares - SSIMM - Parte do braço militar do sistema, forma do pelo Centro de Informações do Exército - CIE, Centro de Informações da Marinha - Cenimar, depois CIM e Centro de Informações de Segurança da Aeronáutica - Cisa.
Subsistema de Informações Estratégicas Militares - SuSIEM - Parte do braço militar da rede, formado pelas Segundas Seções do Estado-Maior do Exército - EME/2, do Estado-Maior da Aeronáutica EMAer/2 e do Estado-Maior da Marinha, todas elas subordinadas ao Estado-Maior das Forças Armadas - EMFA.
Assessorias Especiais de Segurança e Informações - AESI instaladas em empresas estatais como Itaipu Binacional e Instituto Nacional de Previdência Social - lNPS.
Departamento da Polícia Federal -DPF, Conselho de Segurança Nacional - - CSN.Conselho de Segurança Nacional (CSN).
Órgãos militares do Sistema Nacional de Informações
Centro de Informações da Marinha - Cenimar.
Serviço Nacional de Informações - SNI - Coordenava a rede a partir de sua Agência Central -AC e mantinha Agências Regionais em 12 capitais estaduais.
Sistema Setorial de Informações dos Ministérios Civis - SSIMC - Braço civil da rede, formado pelas Divisões de Segurança e Informações – DSI- dos ministérios e pelas Assessorias de Segurança e Informações - ASI de autarquias e universidades.
Sistema Setorial de Informações dos Ministérios Militares - SSIMM - Parte do braço militar do sistema, forma do pelo Centro de Informações do Exército - CIE, Centro de Informações da Marinha - Cenimar, depois CIM e Centro de Informações de Segurança da Aeronáutica - Cisa.
Subsistema de Informações Estratégicas Militares - SuSIEM - Parte do braço militar da rede, formado pelas Segundas Seções do Estado-Maior do Exército - EME/2, do Estado-Maior da Aeronáutica EMAer/2 e do Estado-Maior da Marinha, todas elas subordinadas ao Estado-Maior das Forças Armadas - EMFA.
Assessorias Especiais de Segurança e Informações - AESI instaladas em empresas estatais como Itaipu Binacional e Instituto Nacional de Previdência Social - lNPS.
Departamento da Polícia Federal -DPF, Conselho de Segurança Nacional - - CSN.Conselho de Segurança Nacional (CSN).
Órgãos militares do Sistema Nacional de Informações
Centro de Informações da Marinha - Cenimar.
Com o
recrudescimento da luta armada pela esquerda, o centro recebeu a incumbência de
combater a subversão, e o Decreto nº 68.447, de 30 de março de 1971, o
reestruturou para cumprir essa tarefa.
O Cenimar ficou então responsável por centralizar a produção de informações dentro da Marinha, limitando, assim, a atuação das Segundas Seções, setores tradicionalmente responsáveis pela coleta de informações do Estado-Maior da Armada. O centro mantinha agentes infiltrados em organizações comunistas, permitindo ao órgão conhecer a organização, estrutura e doutrina dos principais grupos de esquerda em atuação no período, como fica evidenciado no dossiê "Ação subversiva no Brasil'; de maio de 1972, que fazia uma análise detalhada das organizações revolucionárias. Em 1986, já no governo Sarney, o Cenimar mudou a sigla para CIM, mantendo o mesmo nome.
Centro de Informações do Exército (CIE)
Foi criado em dois de maio de 1967, pelo Decreto nº 60.664, subordinado diretamente ao gabinete do ministro do Exército. Ao CIE cabia orientar, coordenar e supervisionar todas as atividades de segurança interna e contra informações, concorrendo com a 2ª Seção do Estado-Maior, também encarregada dessas atividades. Diante de um Exército envolvido na política, o controle das informações passava a ter importância estratégica, assim como a prerrogativa das Forças Armadas de ter o controle da segurança interna, atuando ostensivamente na repressão política.
Centro de Informações de Segurança da Aeronáutica (Cisa)
Foi criado pelo Decreto nº 66.608, de 20 de maio de 1970, no então estado da Guanabara, como órgão normativo e de assessoramento do Ministério da Aeronáutica, e substituiu o Núcleo do Serviço de Informações e Segurança da Aeronáutica – NuSISA-, primeiro centro de inteligência criado pelo Ministério da Aeronáutica sob o regime militar, em 1968.
Em 1971, o Cisa foi transferido para Brasília, mas manteve um Escalão Recuado na cidade do Rio de Janeiro, uma vez que o foco das atenções políticas ainda se encontrava no eixo Rio - São Paulo. Suas funções eram: propor ao ministro da Aeronáutica a fixação de normas e procedimentos para as atividades de informações ações de segurança e contrainformações; estabelecer critérios para a seleção, treinamento e aperfeiçoamento de pessoal especializado; orientar, coordenar e supervisionar todas as atividades de informações e Segurança e de contra informações no âmbito do Sistema de Informações da Aeronáutica; e produzir e difundir informes para o Sistema Nacional de Informações - SiSNI, entre outras atribuições.
O Decreto nº 85.428, de 27 de novembro de 1980, alterou sua denominação para Centro de Informações da Aeronáutica, mantendo, contudo, a mesma sigla Cisa. Em 13 de janeiro de 1988, o órgão foi extinto pelo Decreto nº 95.638.
Centro de Informações do Exterior - CIEx
O Centro de Informações do Exterior do Ministério das Relações Exteriores foi, entre 1966 e 1988, uma agência de informações dedicada a monitorar os cidadãos brasileiros que, no exterior, continuavam a manifestar seu descontentamento com o regime militar instaurado no Brasil. De início, políticos, escritores e artistas "subversivos" eram investigados. Posteriormente, todo brasileiro que viajava para o exterior e os estrangeiros interessados em visitar o Brasil foram observados pelo ClEx e pela Divisão de Segurança e Informações do Ministério das Relações Exteriores - DSI/MRE.
Inicialmente chamado de Serviço de Informações no Exterior, o CIEx foi inspirado no modelo britânico de serviço secreto. De acordo com o documento Criação do Serviço de Informações no exterior, de 12 de julho de 1967, era necessário criar um órgão de informações para monitorar as "ações subversivas" de brasileiros, pois a coleta desse tipo de dado era feita, em muitos casos, de forma clandestina, o que saía da alçada do serviço diplomático. Além disso, um serviço específico de informações garantiria, ao mesmo tempo, a especialização necessária à atividade e o reconhecimento ao serviço quando este se relacionasse com serviços de informações aliados. Os principais focos de atuação do CIEx foram a América Latina, notadamente o Uruguai, a Argentina e o Chile. No continente europeu, atuava nos serviços diplomáticos em Paris, Moscou e Praga.
DOI-CODI, o braço operacional da repressão
Em 1970 foram criadas as Zonas de Defesa Interna (ZDI). Essas áreas tinham seus limites de jurisdição idênticos aos que definiam as áreas do I, 11, e IV Exército e do Comando Militar do Planalto. O passo seguinte foi criar, a partir de diretrizes secretas do Conselho de Segurança Nacional (CSN), o sistema Codi-DOI.
O Centro de Operações de Defesa Interna - Codi, chefiado pelo chefe do Estado-Maior do Exército, era um órgão colegiado, em cada uma das quatro Zonas de Defesa Interna (ZDI), formado por representantes do Exército, Marinha, Aeronáutica e polícias civil e militar do governo estadual. Essas áreas tinham seus limites de Jurisdição idênticos aos que definiam as áreas do I, II, e IV Exército e do Comando Militar do Planalto. O braço operacional dos Codi seriam os Destacamentos de Operações de Informações (DOI), controlados operacionalmente pela 2ª Seção do Estado-Maior do Exército (a Seção de Informações) e subordinados aos Codi.
Assim, foram criados os Codi-DOI em São Paulo, Rio de Janeiro, Recife e Brasília e, em 1971, em Belo Horizonte, Curitiba, Salvador, Belém e Fortaleza, com todos os cargos de chefia ocupados por oficiais das Forças Armadas, com exceção dos cargos da área administrativa. Essas estruturas ficaram conhecidas pela denominação DOI-Codi, expressando a preponderância que sua unidade operacional assumiu no combate aos grupos considerados subversivos, em articulação direta com o Centro de Informações do Exército - ClE.
Os DOI-Codi acabaram por partilhar as funções de coordenação das ações de repressão com os serviços secretos da Marinha - Cenimar e da Aeronáutica - Cisa, e mesmo com as Delegacias de Ordem Política e Social - Dops estaduais. O objetivo comum era a desestruturação das organizações de esquerda armadas, tal como fazia a Operação Bandeirante - Oban. Por meio de uma portaria reservada do ministro do Exército, o DOI-Codi foi desativado no final do governo do general João Batista Figueiredo (1979-1985). ”
O Cenimar ficou então responsável por centralizar a produção de informações dentro da Marinha, limitando, assim, a atuação das Segundas Seções, setores tradicionalmente responsáveis pela coleta de informações do Estado-Maior da Armada. O centro mantinha agentes infiltrados em organizações comunistas, permitindo ao órgão conhecer a organização, estrutura e doutrina dos principais grupos de esquerda em atuação no período, como fica evidenciado no dossiê "Ação subversiva no Brasil'; de maio de 1972, que fazia uma análise detalhada das organizações revolucionárias. Em 1986, já no governo Sarney, o Cenimar mudou a sigla para CIM, mantendo o mesmo nome.
Centro de Informações do Exército (CIE)
Foi criado em dois de maio de 1967, pelo Decreto nº 60.664, subordinado diretamente ao gabinete do ministro do Exército. Ao CIE cabia orientar, coordenar e supervisionar todas as atividades de segurança interna e contra informações, concorrendo com a 2ª Seção do Estado-Maior, também encarregada dessas atividades. Diante de um Exército envolvido na política, o controle das informações passava a ter importância estratégica, assim como a prerrogativa das Forças Armadas de ter o controle da segurança interna, atuando ostensivamente na repressão política.
Centro de Informações de Segurança da Aeronáutica (Cisa)
Foi criado pelo Decreto nº 66.608, de 20 de maio de 1970, no então estado da Guanabara, como órgão normativo e de assessoramento do Ministério da Aeronáutica, e substituiu o Núcleo do Serviço de Informações e Segurança da Aeronáutica – NuSISA-, primeiro centro de inteligência criado pelo Ministério da Aeronáutica sob o regime militar, em 1968.
Em 1971, o Cisa foi transferido para Brasília, mas manteve um Escalão Recuado na cidade do Rio de Janeiro, uma vez que o foco das atenções políticas ainda se encontrava no eixo Rio - São Paulo. Suas funções eram: propor ao ministro da Aeronáutica a fixação de normas e procedimentos para as atividades de informações ações de segurança e contrainformações; estabelecer critérios para a seleção, treinamento e aperfeiçoamento de pessoal especializado; orientar, coordenar e supervisionar todas as atividades de informações e Segurança e de contra informações no âmbito do Sistema de Informações da Aeronáutica; e produzir e difundir informes para o Sistema Nacional de Informações - SiSNI, entre outras atribuições.
O Decreto nº 85.428, de 27 de novembro de 1980, alterou sua denominação para Centro de Informações da Aeronáutica, mantendo, contudo, a mesma sigla Cisa. Em 13 de janeiro de 1988, o órgão foi extinto pelo Decreto nº 95.638.
Centro de Informações do Exterior - CIEx
O Centro de Informações do Exterior do Ministério das Relações Exteriores foi, entre 1966 e 1988, uma agência de informações dedicada a monitorar os cidadãos brasileiros que, no exterior, continuavam a manifestar seu descontentamento com o regime militar instaurado no Brasil. De início, políticos, escritores e artistas "subversivos" eram investigados. Posteriormente, todo brasileiro que viajava para o exterior e os estrangeiros interessados em visitar o Brasil foram observados pelo ClEx e pela Divisão de Segurança e Informações do Ministério das Relações Exteriores - DSI/MRE.
Inicialmente chamado de Serviço de Informações no Exterior, o CIEx foi inspirado no modelo britânico de serviço secreto. De acordo com o documento Criação do Serviço de Informações no exterior, de 12 de julho de 1967, era necessário criar um órgão de informações para monitorar as "ações subversivas" de brasileiros, pois a coleta desse tipo de dado era feita, em muitos casos, de forma clandestina, o que saía da alçada do serviço diplomático. Além disso, um serviço específico de informações garantiria, ao mesmo tempo, a especialização necessária à atividade e o reconhecimento ao serviço quando este se relacionasse com serviços de informações aliados. Os principais focos de atuação do CIEx foram a América Latina, notadamente o Uruguai, a Argentina e o Chile. No continente europeu, atuava nos serviços diplomáticos em Paris, Moscou e Praga.
DOI-CODI, o braço operacional da repressão
Em 1970 foram criadas as Zonas de Defesa Interna (ZDI). Essas áreas tinham seus limites de jurisdição idênticos aos que definiam as áreas do I, 11, e IV Exército e do Comando Militar do Planalto. O passo seguinte foi criar, a partir de diretrizes secretas do Conselho de Segurança Nacional (CSN), o sistema Codi-DOI.
O Centro de Operações de Defesa Interna - Codi, chefiado pelo chefe do Estado-Maior do Exército, era um órgão colegiado, em cada uma das quatro Zonas de Defesa Interna (ZDI), formado por representantes do Exército, Marinha, Aeronáutica e polícias civil e militar do governo estadual. Essas áreas tinham seus limites de Jurisdição idênticos aos que definiam as áreas do I, II, e IV Exército e do Comando Militar do Planalto. O braço operacional dos Codi seriam os Destacamentos de Operações de Informações (DOI), controlados operacionalmente pela 2ª Seção do Estado-Maior do Exército (a Seção de Informações) e subordinados aos Codi.
Assim, foram criados os Codi-DOI em São Paulo, Rio de Janeiro, Recife e Brasília e, em 1971, em Belo Horizonte, Curitiba, Salvador, Belém e Fortaleza, com todos os cargos de chefia ocupados por oficiais das Forças Armadas, com exceção dos cargos da área administrativa. Essas estruturas ficaram conhecidas pela denominação DOI-Codi, expressando a preponderância que sua unidade operacional assumiu no combate aos grupos considerados subversivos, em articulação direta com o Centro de Informações do Exército - ClE.
Os DOI-Codi acabaram por partilhar as funções de coordenação das ações de repressão com os serviços secretos da Marinha - Cenimar e da Aeronáutica - Cisa, e mesmo com as Delegacias de Ordem Política e Social - Dops estaduais. O objetivo comum era a desestruturação das organizações de esquerda armadas, tal como fazia a Operação Bandeirante - Oban. Por meio de uma portaria reservada do ministro do Exército, o DOI-Codi foi desativado no final do governo do general João Batista Figueiredo (1979-1985). ”
Esse trabalho meticuloso
de autoria da historiadora Vivien Ishaq, apresenta um quadro bem completo da estrutura
que o regime dos generais montou para manter a dominação e evitar qualquer tipo
de contestação.
Os documentos que
estão na Coordenação Regional do Arquivo Nacional, no Distrito Federal, e nos
acervos de documentos da ditadura dos arquivos estaduais, além de serem
testemunhas de um período tenebroso, são prova incontestáveis do monstro que a
ditadura criou; responsável por desatinos que se projetam na atualidade da
realidade sociopolítica do Brasil. Esse é o legado escrito de um regime calcado
na força e na violência. A sua preservação é uma garantia para que não se
esqueça, para que nunca mais aconteça. O conhecimento de seus conteúdos é uma
ferramenta importante na luta para que o passado não continue modulando o
presente.
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