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segunda-feira, 30 de novembro de 2015

REVELAÇÕES DO CONTATO DE ONOFRE PINTO QUE SUCUMBIU E PASSOU PRO LADO DA REPRESSÃO

REVELAÇÕES DO CONTATO DE ONOFRE PINTO QUE SUCUMBIU E PASSOU PRO  LADO DA REPRESSÃO


O texto abaixo é de autoria de Gilberto Giovannetti, que juntamente com sua companheira Madalena Lacerda  eram contatos de Onofre Pinto em São Paulo no ano de 1974. O casal foi atraído pelo sargento Alberi Vieira dos
Santos para um contato em Foz do Iguaçu, porém foi seqüestrado na Estação Rodoviária de Curitiba por agentes do Centro de Informações do Exército. Após interrogatório Gilberto e Madalena passaram a trabalhar para a repressão. Nesse material que Gilberto me enviou em 2004, ele faz importantes revelações.

“Se vas para Chile...


No final do ano de 74, cinco meses após nosso sequestro e da saída do cativeiro, fomos procurados. Cumprindo o acordo com os donos das espadas, os donos dos pescoços aceitaram a proposta para fazer uma viagem de férias com duração de dois meses pelos países andinos e Argentina. Como até aquele momento a tentativa de nos infiltrar ou colocar em contato com pessoas e grupos de esquerda não rendera nada, até porque já tinham acabado com eles, acharam por bem procurar saber sobre pessoas que estavam no exterior e aqueles que eventualmente queriam entrar clandestinamente no país. Intimamente sabíamos que não encontraríamos essas pessoas. Os tempos não estavam para isso.


Forneceram vários nomes e endereços de pessoas que se encontravam no exterior, particularmente na Argentina, alguns conhecidos de minha companheira.

Só Deus e os sujeitos de histórias como a nossa, de pessoas com consciência e sentimento democrático, submetidas a pressões do aparelho de terror do Estado, especialmente em ditaduras, sabem o que passa pela cabeça nessas horas. Existem mil formas de resistir e conduzir as coisas como entendemos serem as melhores para nossos objetivos.

A pior forma de resistência é o confronto direto, com consequências imprevisíveis. Pior ainda a submissão total, perda de autonomia como indivíduo, redução à indigna condição de coisa, em que muitos, alquebrados pelo terror e tortura, caíram. Em condições adversas é vital preservar a maior margem possível nossa condição de indivíduo, como agente ativo, manter e ampliar a autonomia e dignidade possível.
Ceder e resistir. Ceder no supérfluo para resistir no fundamental, no caso evitar apontar nomes e colocar pessoas em risco.

Nos demoramos em países como Bolívia e Peru, onde tivemos contato com Neiva Moreira. Um contato pessoal, com boas   e   sérias   conversas,   mas   nenhuma   informação comprometedora   (e   se   tivesse   saberíamos   omiti-las). Procuramos mais contatos com peruanos e turistas.

O Peru estava, na época, com o governo do Gal. Alvarado e vivia uma relativa liberdade.

Passamos pelo Chile rapidamente.

* A garganta seca incomodou a noite toda. Nenhuma boa alma havia me lembrado de providenciar água mineral para suportar a secura provocada pela travessia do deserto de Atacama. Estávamos viajando de Arica para Santiago e o ônibus não levava água potável para os passageiros e não fez escalas. As únicas paradas foram em duas rigorosas barreiras policiais. Em uma delas foram vistoriadas todas as bagagens de passageiros a pretexto de fiscalização sanitária, estaria havendo, alegaram, transporte de frutas contaminadas que comprometiam a qualidade produção chilena. Em ditaduras nunca se sabe a verdadeira intenção das autoridades.

De qualquer maneira, havíamos nos despojado rapidamente de todo o material impresso com conteúdo político que encontramos fartamente no Peru do general Alvarado. Foram despejados pela janela do taxi que nos transportou de Tacna ao posto alfandegário de Arica, olhos atentos ao motorista e duas belas jovens chilenas que dividiam a viagem conosco. Em ditaduras é preciso estar sempre atento.
A secura e cansaço na longa viagem para Santiago foi amenizada pelas conversas com a Madalena. Ela lia Chile, una loca geografia”, e me explicava, deslumbrada, os movimentos tectônicos da costa chilena, de como o litoral sofria modificações constantes, com ilhas que apareciam e desapareciam de um dia para outro.

Chegar em Santiago foi para mim oportunidade de ver de perto  a  situação  do  primeiro  país  latino-americano  que chegara a um governo socialista pela via eleitoral e tivera essa experiência soterrada sob os tanques e aviões. Pinochet jogou  todo  poder  repressivo  das  forças  armadas  e paramilitares do Chile para consolidar sua ditadura.

Para Madalena o retorno à cidade em que se asilara trouxe sentimentos contraditórios. Parte de sua vida lá ficara, ela falava com paixão e carinho do povo chileno, do bairro de Santa Luzia, das peñas, dos muitos amigos e companheiros com quem lá convivera durante o exílio. Me levou ao mercado para comer porotos granados, vi o Mapocho cujas águas misturaram-se com o sangue dos socialistas fuzilados e atirados ao rio.

Havíamos acompanhado, atentos, a tragédia chilena e a evolução do golpe, em São Paulo, pelo velho Transglobe, nosso contato com o mundo. Nossos primeiros anos de convívio, antes e depois do sequestro, tiveram como fundo sonoro, além das notícias vindas pelo rádio, os acordes da música latino americana,  especialmente andina e chilena.

Ao caminhar pelas ruas da capital chilena os sons de Vítor Jara, Atahualpa Yupanque, dos Parra, Mercedes Sosa, dos Quillapaiun ressoavam em minha cabeça.Pongo em tuas manos abiertas”, “A desalambrar”, “Te recuerdo Amanda, “Que vivan los estudiantes”, Tengo tantos hermanos”, e o hino da Unidade Popular Venceremos acalentaram tantas esperanças. Agora o povo passava silencioso e cabisbaixo.

Ficamos deprimidos. A gota d’água aconteceu na noite em que caminhamos em direção a praça onde permaneciam os escombros do La Moneda bombardeado. Na praça vazia e escura um cão sem dono, sujo e faminto, vaga a esmo, farejando o chão, tendo ao fundo os escombros do palácio. Madalena não se contem, aquela imagem foi uma sobrecarga para as emoções represadas, tensões e preocupações acumuladas. O choro explode.

Caminhamos para o hotel e ela me conta mais uma vez como era o povo do Chile que conhecera, alegre e participativo. Chegamos ao quarto na hora em que iniciava o toque de recolher, o estado de sítio ainda estava em vigorar. Minutos depois, ouvi tiros e assisti pela janela do quarto - as luzes apagadas - um ônibus de carabineiros recolher pessoas presas em uma casa próxima. Resolvemos partir para a Argentina no dia seguinte.

Quem criou as condições para a queda de Allende, o médico socialista que chegou ao poder pelo voto? Apenas os caminhoneiros manobrados pela direita que boicotaram o abastecimento de gêneros de primeira necessidade e criaram insatisfação na população? O débito não vai também para a irresponsabilidade da esquerda desvairada?

Apesar da neve o trem atravessou os Andes e nos levou até a simpática Mendoza. Dois educados jovens chilenos, que iam a Argentina, foram nossa companhia. Segundo disseram, iam para compras pois no Chile os preços estavam altos demais e não se encontravam bons produtos. Ficavam deslumbrados com os preços das quinquilharias expostas nas lojas.
Eram boas companhias e viajamos juntos até Buenos Aires. No entanto ficamos na nossa, no papel de turistas maravilhados. Nas ditaduras nunca se sabe quem realmente são as pessoas.

Mesmo no exterior poderíamos estar sendo vigiados. Acho que nunca saberemos a verdadeira extensão do cerco repressivo que se armou no continente naquele período, quais as conexões entre as policias políticas e das forças armadas dos diferentes países.

A estadia na Argentina foi etapa final e a mais importante de nossa viagem, que até ali não passara de uma viagem de turismo. O país saíra de uma ditadura militar e vivia o governo de Isabelita Perón, que assumira após a morte do caudilho, mas a instabilidade e radicalização política, agravada  pela  situação  de  exceção  vivida  pelos  países vizinhos - Chile, Uruguai, Brasil e Paraguai sob governos militares - levava o observador mais atento a se preocupar com o que estava por vir. Como sabemos, a nova ditadura que veio com o golpe de 24 de março de 1976 bateu recordes de violência e desrespeito aos direitos humanos.

Muitos dos exilados, inclusive brasileiros, fugindo das tormentas do Chile e alguns do Uruguai encontraram lá um refúgio   temporário   e   muito   precário.   Tínhamos   nos comprometido com os militares brasileiros a fazer contatos e pensava nas estratégias para impedir o envolvimento com coisas sérias que pudessem por em perigo as pessoas que procuraríamos e ao mesmo tempo não atrair desconfiança sobre possíveis traições ao acordo.

Esses contatos em Buenos Aires eram necessários que os  militares  brasileiros  tinham  e  forneceram  nomes  e endereços de pessoas que sabiam que eram conhecidas de minha companheira, desde os tempos do Governo Goulart. Não podiam ser evitados, mas poderiam ser limitados. Não voltaríamos de mão abanando, o que poderia configurar uma traição, mas não traríamos nada que os comprometessem.

Avaliamos seriamente a possibilidade de ter uma conversa aberta com as pessoas e contar tudo que se passara conosco. Mas, seria o mais correto? O que aquelas pessoas, elas próprias envolvidas em graves problemas, poderiam fazer? E quanto a nós, teríamos chance de escapar e poder um dia voltar ao Brasil? As consequências de denunciar publicamente os fatos contribuiriam para o processo de abertura? Poderia confiar nas pessoas? Não estávamos sendo seguidos? Não era melhor continuar o jogo, minimizar informações, e só tomar atitudes drásticas caso houvesse um recrudescimento da repressão no Brasil? Além do mais, a esquerda radical sempre consegue superar-se em se tratando de irresponsabilidade.

Em situações de estado de necessidade - como a que vivíamos - é preciso manter a cabeça fria, avaliar corretamente todas as variáveis em jogo, ser mais responsável com as consequências para si e para os outros do que pensar na autobiografia. Mesmo porque, com exceção de Brás Cubas, não se escrevem memórias póstumas. Ser prudente e não confiar ingenuamente nas pessoas. Infelizmente não era possível abrir o jogo. Nas ditaduras ocorrem situações assim.

Estivemos com Flávio Tavares e Paulo Schilling, pessoas que respeitamos e por quem temos - especialmente Madalena - laços de afeto e que jamais prejudicaríamos. Tinham problemas demais, sabiam que eram visados e bastante conscientes do momento político.

Como foram esses encontros? Visitamos Paulo em sua casa no bairro de Chacarita e Madalena sentiu sincera satisfação em revê-lo e à esposa, depois de tanto tempo e agruras. No passado havia construído sólidos laços afetivos com toda a família. Marcamos novo encontro em um restaurante e entre batatas fritas e copos de vinho falamos de nossas vidas.

Paulo falou das filhas e, claro, da Flávia, presa em Montevidéu com outros tupamaros, nos mostrou uma carta dela. Analisamos conjuntamente a situação política no continente, contou-nos do livro que escrevera sobre a geopolítica do cone sul e nos disse, rindo, que para sua surpresa, foi procurado por oficial das forças armadas argentinas, que encomendou grande
quantidade de
exemplares
para
serem
estudados
nas
escolas
militares.






No final da refeição, caminhamos pelas ruas centrais de Buenos Aires e nos despedimos, contentes com o encontro. Senti-me aliviado e pensei que nada daquilo que conversamos era grave. Nenhum segredo de perigosos conspiradores. Informaríamos apenas dos estudos e do livro para o nosso coronel.

Tanto nós, como Paulo e Flávio, tínhamos opiniões aproximadas sobre as brechas que surgiam nas forças armadas, especialmente  no  caso  brasileiro,  para  a  reversão  do tenebroso quadro existente. Com a esquerda armada aniquilada e a sociedade civil e sociedade política acuadas, as especulações sobre as contradições dentro do aparato militar atraiam o foco das análises que fazíamos.

Li, mais ou menos na mesma época, creio que depois do golpe de 76, na Argentina, um artigo de Flávio Tavares, aliás Júlio Fidalgo, para o Estadão, onde lucidamente analisava a necessidade de deter o que chamou de ciclo da violência na América Latina. A mecânica de ação-reação entre guerrilheiros e militares, com retaliações de ambos lados, levava a uma exacerbação da barbárie, a um paroxismo do terror e as maiores vítimas desse processo eram a população e a democracia.

Foi mais ou menos esse o teor das conversas que tivemos na ocasião com Flávio Tavares. Não me lembro de algum outro aspecto importante, além dos relatos das velhas complicações pessoais que brizolistas como ele e a Madalena tiveram nos idos de 64 e 68.

Continuamos decididos a enfrentar nossos problemas sozinhos. E mais, comecei a achar que poderíamos ter um papel a desempenhar no desarmamento de espíritos que se fazia cada vez mais necessário.

Resolvemos, por nossa conta, procurar Idalina, esposa de Onofre. Tínhamos interesse pessoal em saber mais coisas do que havia ocorrido com ele. Ela, como nós, não sabia nada.
Nós já sabíamos que o Alberi14 (o “Jonas”) era um agente infiltrado (mantivemos essa descoberta em segredo dos militares) e procurou-nos em nome de Onofre, nos atraindo para a armadilha. Mas não sabíamos mais nada. Às poucas vezes em que perguntamos sobre Onofre aos agentes da repressão eles não nos respondiam, apenas davam um sorriso enigmático, que poderia significar muitas coisas, inclusive de que Onofre havia se “passado” (chegamos a pensar nessa hipótese).

Idalina não recebia informações do marido desde do período em que fomos seqüestrados, passava necessidade, juntamente com a filha, em uma situação muito precária. Mulher simples, sem nada contra ela, no máximo teria que dar um depoimento quando chegasse ao Brasil e se reintegraria a seus familiares. Além do mais os militares não fariam nada que pudesse nos “queimar”, pois estavam interessados em coisas mais “quentes”. Discutimos com Idalina essa possibilidade de voltar para casa sem informá-la, é claro, de nossa complicada situação. Ela aceitou e animou-se.
Viajamos juntos até São Paulo e nos despedimos. Não nos vimos mais. Durante essa viagem tivemos contatos - conforme instruções - com os agentes brasileiros, por cartões postais e por telefone. Um agente esteve conosco em B. Aires, e em Porto Alegre encontramos nosso coronel. O jogo continuava, queríamos preservar nossas vidas, mas não pagar um preço alto demais, como se infiltrar em organizações ou em atividades organizadas que poderiam levar à detenção ou a morte de outras pessoas.


Agimos com o máximo de sentimento humano. A experiência que passamos nos deixou mais humildes, conhecedores de nossos limites, defeitos e qualidades. Nunca agimos irresponsavelmente e por uma questão mais de caráter pessoal do que ideológica, preferíamos continuar andando no fio da navalha, num arriscado jogo duplo, do que provocar prejuízos concretos às pessoas.

Buscando luz no fundo da noite ou quando o melhor é não fazer nada.
Quando voltamos a São Paulo começamos a trabalhar. Madalena retomou os estudos e chegava em casa às 23:30 horas. Quando não estávamos trabalhando ou estudando ficávamos em casa sempre que possível. Também passamos a nos relacionar com pessoas das mais variadas preocupações e até mesmo alienadas politicamente e evitávamos, conscientemente, frequentar ambientes ou pessoas que poderiam nos por em contato   com   articulações   políticas,   principalmente organizadas. Mesmo omitindo informações, poderíamos estar sendo  seguidos.  Vez  por  outra  fizeram  contato.  Também deixaram números de telefone para alguma informação. Por um longo tempo, houve um afastamento completo. Ainda vivia-se com muito medo e insegurança. Assim é nas ditaduras.

Retomaram contato em meados de 1976. Fui informado do processo em que havia sido condenado - “a revelia” - a cumprir 2 anos de prisão Num dos encontros, e muitas vezes eram encontros cordiais, propus que simulassem minha prisão ou   me apresentaria e cumpriria a pena. Não gostaram da ideia. Insisti, queria demonstrar que não queria continuar “clandestino”, mas não queria ficar naquela situação e não inventaria informações inexistentes. As tímidas atividades políticas eram agora legais, abertas e pacíficas.

No próximo encontro vieram com a proposta de que, já que eu insistia em cumprir pena,   deveria ser preso e passar informações sobre as articulações dos presos políticos. Mau negócio. Pedi tempo para pensar e me preparar para a possibilidade, mas intimamente sabia que não me sujeitaria ao papel.  Queria  mesmo  ganhar  tempo,  fundamental  nessas ocasiões.

Um mês depois respondi por carta e depois pessoalmente. Minha posição era de não ir preso com aquelas condições, não me sentiria bem e não gostava daquele trabalho. Não teríamos condições psicológicas para suportá-lo.

Foram momentos tensos em que ficamos na expectativa do que ocorreria. — “Também fazemos muita coisa de que não gostamos”, responderam, contrariados. Retruquei que minha preocupação era tratar de minha vida pessoal, se fosse preciso cumpriria minha pena, mas não queria nenhum outro compromisso. Nós estávamos neutralizados e fora de combate,os grupos de esquerda armados estavam aniquilados, aquilo precisava ter um fim.

Foi um período em que o relacionamento mudou. Tentaram nos passar para outros “controladores” e nesses encontros não se avançava. Não estávamos mesmo dispostos, embora submetidos à forte pressão, a negarmos nossa humanidade. Insistimos: os tempos estavam mudando, bastava ler os jornais, em breve seríamos figuras do passado, repressores e militantes da luta armada.

Continuaram insistindo no acordo e pensavam em nos infiltrar nos movimentos da sociedade civil, com os quais nós sempre nos “desencontrávamos”. Argumentavam: “Vocês falam bem, se fossemos preparar alguém assim levaria anos”.

Em um dos últimos encontros dessa fase veio outro agente, mais jovem, também militar que, pelas informações que trouxe a nosso respeito e pelo comportamento parecia ser de outro órgão. Percebemos, embora nada nos fosse dito, que havíamos sido “negociados”, num acordo entre os diversos serviços de segurança. Passávamos de “controladores” do DOI- CODI para os do SNI. Isso tudo foi dedução nossa, nunca nos foi explicitado.

O episódio pode ser interpretado como resultado do processo de enquadramento dos setores mais radicais que haviam atuado na repressão direta aos grupos armados e adquirido  grande  autonomia  ao  alto  comando  das  forças armadas.

Nos encontros com o novo “controlador” depois de estudo mútuo e perguntas sobre o passado, nos foi dito que contavam com a gente para uma “missão” no exterior. Falaram vagamente em problemas nas Guianas. Achei estranho, mas logo compreendi que se tratava de técnica de contrainformação, uma medida de segurança para a operação real que planejavam. Sempre foram bastante profissionais. Nos deram um novo papel para assinar, uma espécie de contrato de trabalho, vago, de uma única via. Tentamos argumentar que aquilo ia prejudicar nossos compromissos profissionais e de estudo no Brasil. E se não aceitássemos? Sorrisos sem graça; estaríamos rompendo o “acordo” e ... A ameaça ficava no ar.

Sugeriu que aquele trabalho era mais sofisticado, de inteligência. Se não aceitássemos, e sabíamos disso, nos devolveriam aos antigos controladores, “gente da pesada” ... Aceitamos. Nas circunstâncias acabamos por sentir satisfação ao perceber que poderia estar ajudando no desmantelamento da fase de atrocidades e arbitrariedades que ocorriam contra os oposicionistas.

Gilberto Giovanetti



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