Aconteceu em
quatro de abril de 1969, quando por ocasião de minha prisão na cidade de
Cascavel, um cartão de visitas foi encontrado entre meus pertences.
Esse cartão,
o “Gutinho” havia me dado quando eu fui visitá-lo na redação do jornal em que ele era
o editor. Acho que o jornal era o “Folha do Norte”.
Eu estava em
Maringá fazendo alguns contatos e como uma das pessoas que eu tinha ido
procurar, a Palmira Amâncio, só estaria em casa mais tarde do dia, aproveitei
para visitar meu amigo de infância e adolescência. Somos de São Fidélis, cidade
da região norte do Estado do Rio de Janeiro.
Pois bem, na
ânsia de descobrir minhas ligações, a polícia política assim que encontrou o
cartão de visita do “Gutinho” saiu em sua busca. Enquanto isso, na Delegacia de
Polícia de Cascavel, agentes do Dops e do Exército me mantinham pendurado no
“pau-de-arara” e me submetiam a afogamento e choques elétricos. Como
consequência de meu silêncio, o suplício durou horas. Não sei quantas. Devo ter
desmaiado várias vezes, pois no dia seguinte fui despertado com um jato d’água.
Meus braços e pernas estavam adormecidos.
Sobre
Antônio Augusto de Assis, nada mais eu soube, após a descoberta do cartão de
visita e de minha insistência em negar qualquer tipo de ligação política com o
meu conterrâneo. Quanto mais eu negava ou silenciava, mais eu era torturado.
Eu só fui
encontrar o “Gutinho” algum tempo depois, na sala de comando do Quartel da
Polícia do Exército, na época localizado na Praça Rui Barbosa, em Curitiba.
No Quartel
da PE fiquei preso numa solitária e durante várias vezes por dia era submetido
a torturas por um grupo de tenentes.
Algumas
vezes fui interrogado sobre minha ligação com Antônio Augusto de Assis e todas
as vezes confirmei que era apenas uma amizade de infância, que Gutinho, não
tinha nada a ver com minhas atividades, pelo contrário ele era católico
tradicionalista, ligado ao Arcebispo de Campos, conhecida liderança da TFP.
No dia de
minha acareação com “Gutinho”, a sala de comando estava cheia de altos oficiais
do Exército e em cima de uma mesa equipamentos para gravar a conversa.
Eu, de pé,
rodeado pela escolta e de frente a uma porta por onde Gutinho entrou na sala,
também escoltado.
Fiquei
chocado, ao ver meu velho amigo de infância chegar pálido e com a barba por
fazer.
Nem esperei
ser interrogado, ao ver aquele semblante sofrido eu disse alto e em bom som.
“Desculpe-me
Gutinho, eu disse várias vezes que você não tem nada a ver com as minhas
atividades.”
E apontando
para os oficiais do Exército eu afirmei:
“por que
prenderam esse rapaz?, ele está do lado de vocês”.
Em seguida
fui retirado da sala e levado de volta para a solitária.
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