Páginas

quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

Preso por engano

Aconteceu em quatro de abril de 1969, quando por ocasião de minha prisão na cidade de Cascavel, um cartão de visitas foi encontrado entre meus pertences.
Esse cartão, o “Gutinho” havia me dado quando eu fui visitá-lo na redação do jornal em que ele era o editor. Acho que o jornal era o “Folha do  Norte”.
Eu estava em Maringá fazendo alguns contatos e como uma das pessoas que eu tinha ido procurar, a Palmira Amâncio, só estaria em casa mais tarde do dia, aproveitei para visitar meu amigo de infância e adolescência. Somos de São Fidélis, cidade da região norte do Estado do Rio de Janeiro.
Pois bem, na ânsia de descobrir minhas ligações, a polícia política assim que encontrou o cartão de visita do “Gutinho” saiu em sua busca. Enquanto isso, na Delegacia de Polícia de Cascavel, agentes do Dops e do Exército me mantinham pendurado no “pau-de-arara” e me submetiam a afogamento e choques elétricos. Como consequência de meu silêncio, o suplício durou horas. Não sei quantas. Devo ter desmaiado várias vezes, pois no dia seguinte fui despertado com um jato d’água. Meus braços e pernas estavam adormecidos.
Sobre Antônio Augusto de Assis, nada mais eu soube, após a descoberta do cartão de visita e de minha insistência em negar qualquer tipo de ligação política com o meu conterrâneo. Quanto mais eu negava ou silenciava, mais eu era torturado.
Eu só fui encontrar o “Gutinho” algum tempo depois, na sala de comando do Quartel da Polícia do Exército, na época localizado na Praça Rui Barbosa, em Curitiba.
No Quartel da PE fiquei preso numa solitária e durante várias vezes por dia era submetido a torturas por um grupo de tenentes.
Algumas vezes fui interrogado sobre minha ligação com Antônio Augusto de Assis e todas as vezes confirmei que era apenas uma amizade de infância, que Gutinho, não tinha nada a ver com minhas atividades, pelo contrário ele era católico tradicionalista, ligado ao Arcebispo de Campos, conhecida liderança da TFP.
No dia de minha acareação com “Gutinho”, a sala de comando estava cheia de altos oficiais do Exército e em cima de uma mesa equipamentos para gravar a conversa.
Eu, de pé, rodeado pela escolta e de frente a uma porta por onde Gutinho entrou na sala, também escoltado.
Fiquei chocado, ao ver meu velho amigo de infância chegar pálido e com a barba por fazer.
Nem esperei ser interrogado, ao ver aquele semblante sofrido eu disse alto e em bom som.
“Desculpe-me Gutinho, eu disse várias vezes que você não tem nada a ver com as minhas atividades.”
E apontando para os oficiais do Exército eu afirmei:
“por que prenderam esse rapaz?, ele está do lado de vocês”.   
Em seguida fui retirado da sala e levado de volta para a solitária.


Nenhum comentário:

Postar um comentário