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quarta-feira, 11 de outubro de 2017

Teimosos

Teimosos
André, Gregório, Jamil, eram alguns dos nomes de guerra de jovens que ousaram insurgir-se contra o regime ditatorial brasileiro, nos anos 60 e 70, inspirados pela Revolução Cubana, a Guerra do Vietnã e a União Soviética, lançaram-se em armas contra a tirania dos militares, com um projeto claro de poder, a construção de uma pátria com valores socialistas. Eles ousaram, lutaram, perderam companheiros e companheiras valorosos pelo caminho, foram presos, torturados, exilados, mas foram sobretudo vencedores, mais que sobreviventes, fizeram parte de uma geração de vencedores.
No último sábado e domingo, reuniram-se em Três Passos, município localizado ao noroeste do estado do Rio Grande do Sul, alguns nobres personagens desse capítulo da luta de classes no Brasil, Diógenes de Oliveira, Ubiratan de Souza, Ladislau Dowbor, José Carlos Mendes, Hatsuo Fukuda, Calino Pacheco,  Esmael de Souza, Aluizio Palmar, Gringo (companheiro que por ocasião estava de aniversário, razão do reencontro) e Nádia, somados a eles havia fundadores do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), foram dois dias em que novamente foi contada uma outra história do país.
Eram jovens quando foram apanhados e torturados, não delataram nenhum companheiro ou companheira. Exilados, cumpriram seu papel de internacionalistas e serviram a causa revolucionária em outros países, como Chile, Cuba, Portugal, Coréia do Norte e Guiné-Bissau, retornando ao Brasil com a Anistia e abertura democrática empenharam-se na luta partidária e ajudaram a fundar o PT e o PDT, entre outros partidos de menor ou maior expressão. Homens de partido e de tomar partido, sentem-se por vezes frustrados por ver a democracia que ajudaram a construir a duras penas, ser golpeada, ultrajada, dia-a-dia.
Captei alguns trechos dos discursos no curto ato político que teve pelo domingo de manhã, os quais transfiro aqui para conhecimento de todos.
José Carlos Mendes – “A nossa luta vem de longe, da luta indígena com a invasão do Brasil, da resistência a escravidão, das lutas populares…. mas nós viemos até aqui, agora passamos o bastão à essa nova geração, aos jovens.”
Gringo – em um portunhol característico, “La história mia, es realmente mucho larga, por que nunca deixei de luchar. Hoje, luto junto com los campesinos, pequenos produtores, contra el monopólio de las multinacionales.”
Ladislau Dowbor – “Na ditadura, você não tem escolha. Resistir é um dever. ”
“A democracia brasileira envergonha o país, não pode haver democracia em um país onde 5%, detém a mesma riqueza que os outros 95%…Nós todos já estamos com idade avançada, mas somos teimosos. Queremos um país justo, igualitário e democrático.”
Pra terminar. Viram pela 1º vez chegar à Presidência do país um líder popular, vindo da classe operária e suceder-lhe uma companheira de armas, também a viram ser apeada do poder, por um golpe parlamentar, jurídico e midiático. No golpe que durou 21 anos eles resistiram com armas, hoje suas armas são o microfone e a caneta, que escreve suas memórias e desnudar as artimanhas do capital financeiro que subjuga nações. O acúmulo intelectual e suas histórias de vida contribuem para manter viva a luta popular de resistência, como frisou Darci Maschio, dirigente da Via Campesina, todos seguimos aprendendo com vocês, que de forma muito sincera chamamos de comandantes.

Por Maister F. da Silva – Militante do MPA

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