ONU vai cobrar do
Brasil sobre mazelas do sistema carcerário
Juana
Kweitel e Lúcia Nader, da ONG Conectas Direitos Humanos, analisam o caso para a
Folha. Se pretende ser uma potência e uma democracia, o Brasil precisa
enfrentar velhas e novas violações aos direitos humanos. Essas violações serão
tratadas pela ONU hoje. A política de encarceramento maciço e as O Itamaraty digitalizará 80
milhões de documentos históricos. serão temas abordados. Mais de 500 mil pessoas estão detidas no Brasil,
muitas delas em condições desumanas, quase medievais, em locais onde a prática
da tortura e os maus-tratos são ainda sistemáticos.Mais de 36% da população
carcerária é de presos provisórios - alguns por mais de seis meses sem contato
inicial com defensor público ou juiz. É importante que a ONU não se contente
com a construção de presídios no enfrentamento da questão. São necessárias
medidas mais profundas que incluam o debate sobre a atual lei de drogas e o
fortalecimento significativo da Defensoria Pública país afora.Serão também
muito bem-vindas recomendações acerca do combate à tortura e da demora em pôr
em prática um mecanismo nacional de prevenção autônomo, pendente desde 2008,
quando o país ratificou o Protocolo Facultativo da Convenção contra a
Tortura.Nesse sentido, é preocupante que não tenha ainda sido divulgado o mais
recente relatório da ONU sobre tortura no Brasil, nas mãos do governo federal
desde 8 de fevereiro.Espera-se que violações fora das prisões também sejam alvo
de questionamentos, entre elas o impacto das obras da Copa e da Olimpíada nos
direitos das comunidades mais vulneráveis. Não são raros os casos envolvendo
despejos forçados, muitas vezes com violência e sem direito a compensação.No
plano das grandes obras de infraestrutura, também há problemas. A reação do
governo aos questionamentos internacionais no caso da construção da usina de
Belo Monte é alarmante.Temendo o impacto irremediável na vida de 24 povos
indígenas, a OEA emitiu medida cautelar pedindo a interrupção das obras
enquanto não fossem realizadas, de acordo com os padrões internacionais,
consultas prévias às comunidades afetadas.O governo brasileiro reagiu de forma
virulenta, pondo em xeque sua política histórica de cooperação com organismos
multilaterais.Essa reação traz à tona um questionamento sobre a adoção de um
modelo de crescimento econômico que atropela direitos.Vivemos momento de
escolhas. É hora de o Brasil decidir se quer continuar a conviver com práticas
medievais ou passar a outro patamar. É hora de decidir por um modelo de
desenvolvimento em que direitos básicos não fiquem a reboque de crescimento
econômico e consumo, e de decidir se quer ou não desempenhar um papel
protagonista no cenário internacional, com base em valores e princípios.
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