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segunda-feira, 13 de abril de 2015

O BAILE DO ESQUELETO

O Baile do Esqueleto
Aluízio Palmar
1967. O pessoal do MNR cai na serra de Caparaó. Em Cuba, acontece a Conferência da
OLAS, que pregava a revolução continental, da qual Marighela participa à revelia do
Comitê Central do PCB. Os Estados Unidos bombardeiam sem dó nem piedade o Vietnam
enquanto em seu território surgia o Partido Panteras Negras, no bojo da luta pelos
direitos civis.
Em Niterói, nós já éramos “dissidência”. Havíamos rompido com o Partidão. A etapa da
revolução era socialista e o método de luta uma combinação entre ações armadas e luta
de massas.
Decidimos, então, montar uma gráfica clandestina para rodar nossos panfletos e um
jornal. Entretanto, faltava a grana para comprar a impressora, guilhotina e demais itens.
Com a cobertura da União Fluminense de Estudantes, resolvemos fazer um baile précarnavalesco
para levantar os recursos necessários. O local já estava definido seria no
velho e bom Sindicato dos Operários Navais, no Barreto. Milton Gaia Leite, o Fiat e o
250
Nielse Fernandes garantiram o salão. Eles eram operários navais e faziam parte do
comando da DI/RJ.
O baile transcorria normal até que, de repente, soldados da PM e agentes do DOPS
baixaram na área. Um pouco antes da invasão, o pessoal da UFF havia panfletado o local
com uma paródia da marchinha Máscara Negra, de Zé Kéti. A banda tocou e a
estudantada a plenos pulmões cantou:
- Quantos tiras! Oh! Quantos gorilas! Mais de mil milicos em ação. Estudantes desfilando
pelas ruas da cidade, gritando por liberdade.
No meio de toda a confusão de camburões e estudantes presos, o Nielse que estava na
portaria passou a arrecadação para que o Fiat me entregasse. Eu o esperava de terno e
gravata debaixo da marquise do Cine Central. Naquele tempo, só se entrava no Central
de terno e gravata. Peguei a sacola com a grana e dei no pé. Fui parar no dia seguinte na
cidade de Campos, onde a base local do Partidão já tinha uma impressora para vender à
vista.
Desmontamos aquela coisa imensa e levamos para Niterói. Mas nosso plano acabou não
dando certo. Aquele monte de partes da impressora esparramadas parecia um depósito
de ferro velho. A gente não conseguiu montar a baita e o sonho da imprensa revolucionária
foi abandonado.

Era hora de partir para o foco guerrilheiro.

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