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Sempre em busca de sua utopia
revolucionária Diógenes , vindo da
Bélgica, onde tinha abandonado seus
estudos na Universidade de Lovaina, chegou a Portugal alguns dias depois da
eclosão da Revolução dos Cravos, que aconteceu no dia 25 de abril de 1974. O
movimento foi organizado por jovens oficiais das três armas e se chamou
Movimento das Forças Armadas (MFA). A palavra
cravo veio porque, sendo essa a flor símbolo de Portugal e vendida em
todas as esquinas de Lisboa, foi colocada pelas floristas no cano dos fuzis dos
soldados, na medida em que o velho
regime salazarista, já caindo de maduro,
quase não necessitou de tiros para desmoronar como uma castelo de
cartas. Apesar de seu caráter castrense, ninguém chamou essa movimentação
militar de golpe de estado. Era uma verdadeira Revolução, feita por oficiais de
nível médio, que visava derrubar um regime ditatorial que já durava quarenta
anos e conseguir assim acabar com a guerra colonial.
Portugal é um país pequeno, mais
ou menos do tamanho do Rio Grande do Sul, com cerca de dez
milhões de habitantes e menos
de 300 mil quilômetros quadrados de superfície. Vinha
sustentando, há cerca de 10
anos , uma cruenta guerra colonial na África. Embora países
grandes, como Moçambique e
Angola, intensificassem o seu processo de luta de libertação
nacional, foi na pequena
Guiné-Bissau, na África Ocidental, que a guerra golpeou mais fortemente
o exército colonial português. Através do Partido Africano pela
Independência da Guiné e do Cabo
Verde( PAIGC ), os
nacionalistas, dirigidos por Amílcar
Cabral, conseguiram na União Soviética
foguetes tipo SAM 7, capazes de derrubar os
aviões lusitanos, o que mudou a
correlação de
Forças a favor dos africanos.
Por não ter contingentes militares
suficientes o governo começou a mandar
estudantes para
as frentes de combate. Todo o
universitário homem era obrigado a fazer uma espécie de
CPOR (Centro de Formação de
Oficiais da Reserva), que nós também temos aqui , e seguia
diretamente para a guerra.
Foram esses jovens que fundaram o MFA nas selvas da Guiné
Bissau e conseguiram depois
fazer a Revolução.
Diógenes chegou à Lisboa em plena ebulição do processo
revolucionário, que foi grandioso.
Guardadas as devidas
proporções tinha características parecidas com a gloriosa Revolução russa
de 1917. Só não prosperou
porque, na bipolaridade da Guerra Fria, as duas super potências
haviam partilhado o mundo em
duas partes: Portugal devia ficar no âmbito da OTAN e dos
Estados Unidos, enquanto
Angola, grande produtora de petróleo, ficaria sob a hegemonia da
União Soviética. Diógenes
analisa tudo isso em seu livro de memórias, com a lucidez de quem foi
testemunha ocular de toda essa
história, um pouco protegido pela imparcialidade do longo
tempo que passou daqueles dias
até os momentos atuais.
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