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segunda-feira, 1 de maio de 2017

A REVOLUÇÃO DOS CRAVOS R 12

·         Sempre em busca de sua utopia revolucionária  Diógenes , vindo da Bélgica, onde tinha  abandonado seus estudos na Universidade de Lovaina, chegou a Portugal alguns dias depois da eclosão da Revolução dos Cravos, que aconteceu no dia 25 de abril de 1974. O movimento foi organizado por jovens oficiais das três armas e se chamou Movimento das Forças Armadas (MFA). A palavra  cravo veio porque, sendo essa a flor símbolo de Portugal e vendida em todas as esquinas de Lisboa, foi colocada pelas floristas no cano dos fuzis dos soldados, na medida em  que o velho regime salazarista, já caindo de maduro,  quase não necessitou de tiros para desmoronar como uma castelo de cartas. Apesar de seu caráter castrense, ninguém chamou essa movimentação militar de golpe de estado. Era uma verdadeira Revolução, feita por oficiais de nível médio, que visava derrubar um regime ditatorial que já durava quarenta anos e conseguir assim acabar com a guerra colonial.

Portugal é um país pequeno, mais ou menos do tamanho do Rio Grande do Sul, com cerca de dez
milhões de habitantes e menos de 300 mil quilômetros quadrados de superfície. Vinha 
sustentando, há cerca de 10 anos , uma cruenta guerra colonial na África. Embora países
grandes, como Moçambique e Angola, intensificassem o seu processo de luta de libertação
nacional, foi na pequena Guiné-Bissau, na África Ocidental, que a guerra golpeou mais fortemente
o exército colonial  português. Através do Partido Africano pela Independência da Guiné e do Cabo
Verde( PAIGC ), os nacionalistas,  dirigidos por Amílcar Cabral, conseguiram na União Soviética
foguetes  tipo SAM 7, capazes de derrubar os aviões  lusitanos, o que mudou a correlação de
Forças a favor dos africanos.

Por não ter contingentes militares suficientes  o governo começou a mandar estudantes para
as frentes de combate. Todo o universitário homem era obrigado a fazer uma espécie de
CPOR (Centro de Formação de Oficiais da Reserva), que nós também temos aqui , e seguia
diretamente para a guerra. Foram esses jovens que fundaram o MFA nas selvas da Guiné
Bissau e conseguiram depois fazer a Revolução.

Diógenes  chegou à Lisboa em plena ebulição do processo revolucionário, que foi grandioso.
Guardadas as devidas proporções tinha características parecidas com a gloriosa Revolução russa
de 1917. Só não prosperou porque, na bipolaridade da Guerra Fria, as duas super potências
haviam partilhado o mundo em duas partes: Portugal devia ficar no âmbito da OTAN e dos
Estados Unidos, enquanto Angola, grande produtora de petróleo, ficaria sob a hegemonia da
União Soviética. Diógenes analisa tudo isso em seu livro de memórias, com a lucidez de quem foi
testemunha ocular de toda essa história, um pouco protegido pela imparcialidade do longo
tempo que passou daqueles dias até os momentos atuais. 
   


 



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