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segunda-feira, 1 de maio de 2017

ALGUNS PONTOS PARA UM PROGRAMA DE TRANSIÇÃO

1-    A chave de abrir a porta  para um programa de transição que tire o país  do buraco onde  se encontra é a  questão da reforma política. Até agora se tem dito que a causa das deformações  estruturais que temos nessa área é o ítem do financiamento das campanhas eleitorais, sempre milionárias. Mencionam-se os aportes empresariais, de pessoas físicas e até os de origem  pública. No entanto, este é um falso problema. As investigações da Operação Lava Jato já estimaram  que cerca de setenta por cento dos gastos eleitorais são feitos através de caixa 2, fora de controle. O problema é outro. A nossa crise advém fundamentalmente do tipo de democracia por representação  que praticamos. A cidadania é forçada, no modelo atual, a escolher alguém que a represente, com uma procuração cujos poderes, no geral,  são desvirtuados ou mudados já no fechar das urnas. A nossa proposta é a implantação de um sistema de democracia direta, onde o cidadão exerce  ele mesmo o seu direito de participar e opinar  sobre todas as questões, tanto as relativas  aos  seus   interesses  particulares ou corporativos como  naquelas de interesse  público . A nível nacional seria necessário criar uma  estrutura com integrantes eleitos pelo povo, porém   não remunerados, mais ou menos como o que já se  fez com o  CONSELHO DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E SOCIAL, o chamado Conselhão. Na base da pirâmide social teriam que ser criadas estruturas de participação  cidadã  semelhantes às do Orçamento Participativo de Porto Alegre, ainda que com poderes mais alargados. A sociedade brasileira tem acúmulo político suficiente  para isso. Ou então continuaremos a conviver com as centenas de picaretas que compõem o Congresso Nacional e Câmaras Municipais cujas principais funções são dar nome   à  ruas ou títulos de cidadão honorário. Definitivamente:  essa democracia burlesca que temos não vai tirar o país do nada em que nos encontramos e só pode nos levar para  o  lugar nenhum.
2-    Acabar imediatamente com o sistema bicameral do país e criar uma única estrutura de representação, não maior do que o atual Senado Federal. Evidentemente,  o que se vislumbra aqui é algo parecido com o que já foi abordado no ítem anterior, ou seja, o Conselhão.
3-    Adotar o sistema de revogabilidade dos mandatos, tanto no Executivo como no Legislativo. Mediante um mecanismo simples de coleta de assinaturas, que guardasse proporção com a votação obtida nas urnas, o eleitor teria o direito de revogar o mandato  do eleito  que tivesse desvirtuado a procuração que recebeu para exercer a representação.
4-    Instituir o voto facultativo pois a obrigatoriedade de votar prostitui a relação entre eleitor e eleito por causa da prática generalizada da compra de votos e/ou cabos eleitorais.
5-    Acabar com o horário eleitoral nos meios de comunicação,  pois é nesse espaço que se articulam as grandes mentiras para engambelar o eleitor.
6-    Na área da Segurança Pública,  para estancar o processo de   “mexicanização” acelerada que estamos presenciando,  extinguir as polícias, tanto civis como militares, naqueles estados onde elas estiverem entrelaçadas com o crime organizado, colocando no seu lugar destacamentos da Força Nacional de Segurança Pública, devidamente potencializada para tal. Até os postes das ruas sabem que o QG do crime se encontra hoje dentro dos presídios. E qualquer juiz corregedor que conserve um mínimo de coragem e honestidade  pode fazer uma radiografia, tipo ressonância magnética, dos nossos corpos policiais. Se isto não for possível, mesmo que a prática seja meio abjeta, mas no intuito de salvar a sociedade da barbárie da corrupção policial, pode-se apelar  para a prática da delação premiada, cujo detalhamento, evidentemente, não pode ser exposto aqui.
7-    Promover uma devassa na Polícia Federal, organizando para isso um Grupo de Trabalho, com integrantes da sociedade civil como OAB e CNBB, para verificar se ela ainda está comprada ou não por uma potência estrangeira e, se for o caso, tomar as medidas necessárias para acabar com essa vilania, que achincalha a dignidade nacional.
8-    Na área econômica a primeiríssima providência é mandar fazer uma auditoria independente  da dívida pública e subtraí-la imediatamente do controle dos grandes bancos. No início do Plano Real a nossa dívida era de R$ 80 bilhões. Hoje ela está na ordem dos R$ 3 trilhões, sendo que noventa por cento  desse  valor é gerado através dos  mecanismos contábeis de juros sobre juros e outros derivativos podres de “não moedas”. O Brasil tem “expertise” para isso. O NÚCLEO DE AUDITORIA CIDADÃ DA DÍVIDA, dirigido pela ex-auditora da Receita Federal  Maria Lúcia Fatorelli , está participando da auditoria da dívida grega e já auditou a dívida do Equador, onde foi constado cabalmente que  somente 30%  daquilo que o mercado financeiro dizia ser a dívida pública total desse país eram valores reais.  O restante não passava de moedas apenas contábeis ou títulos  podres , que o Presidente Rafael Correia não pagou.
9-    Unificar  o Caixa dos tesouros nacional e estaduais. Abolir o sistema de participação percentual na Receita Pública daqueles organismos que só gastam mas não arrecadam nada.  Unificar também a confecção das folhas de pagamento de todos os funcionários públicos, seja  a que Poder pertençam.  A sociedade não suporta mais assistir o Poder Judiciário se auto concedendo aumentos e penduricalhos salariais, enquanto transitam solenemente por seus palácios de mármore. A autonomia dos poderes tem que se dar no ato de julgar, legislar e governar, mas nunca na esfera administrativa, pois a fonte de receita é uma só, ou seja, o contribuinte.
10-           Abolir,em todos os meios de comunicação, qualquer  divulgação publicitária de órgãos públicos. A chamada publicidade legal, como os anúncios de concursos ou Avisos de Editais de Licitações,  devem ser feitas em cadernos especiais dos Diários Oficiais da União e dos Estados.  Somente através desse mecanismo é que se conseguirá abolir  a relação promíscua entre a  Imprensa  e o Poder.

         11-Institucionalizar e estimular mecanismos de desobediência civil, a fim de que a sociedade possa se defender dos abusos do Poder Econômico. Os exemplos mais evidentes se dão no caso das tarifas bancárias ,  nos abusos das empresas de telefonia celular e até em empresas públicas, como no ramo da eletricidade. Sendo conhecido o fato de que nenhuma empresa agüenta uma queda brusca em seu faturamento  num patamar superior a 20%, se a cidadania, articulada  nas redes sociais, e com estímulo público, exercer  a portabilidade, os direitos dos consumidores certamente serão mais respeitados.
                                                         ...../.....
          Se surgir uma terceira via no cenário político brasileiro, simultaneamente ao lançamento público de um Programa de Transição será necessário fazer uma convocatória veemente às mais  destacadas organizações da sociedade civil para dar forma jurídica e respaldo social às propostas que forem apresentadas.

          Porto Alegre, 04-08-2015

          Diógenes Oliveira








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