1-Ainda hoje é comum nos depararmos com pessoas que afirmam que a ditadura produziu efeitos positivos para o Brasil. Como você avalia isso?
Em matéria de
distribuição de renda, foi grande o estrago feito pelos militares e seus
tecnocratas. Em 1985, os 20% mais ricos da população ficavam com quase 70% da
riqueza do país, enquanto, antes de 1964, recebiam quase 55%. Antes da ditadura, quem recebia o salário
mínimo precisava trabalhar pouco mais de 98 horas para comprar sua cesta
básica. Em 1983, eram necessárias mais de 172 horas.
Esquece-se muito facilmente que a ditadura sucateou
a educação ao estimular a criação de instituições privadas.
Também que a ditadura foi um dos períodos de
maior corrupção do Brasil. Basta lembrar-se de casos como Capemi, Coroa-Brastel,
Lutfalla, Baum-garten, Tucuruí, Banco Econômico, Transamazônica, Ponte
Rio-Niterói, entre tantos outros. Esses casos, acontecidos no período da
ditadura, são exemplo da relação
promiscua entre o Estado e empresariado nacional e que perdura até os dias de
hoje.
2-Qual a importância do debate público sobre a
ditadura civil-militar brasileira?
3-Qual a atualidade das investigações sobre o grupo de Onofre
Pinto?
4- Pode falar alguma
coisa sobre as relações binacionais repressivas (condor ou não) envolvendo
o Paraguai e o Brasil (fronteira, Itaipu, a perseguição a lideranças e
militantes paraguaios)?
5-Como a Lei de Anistia agiu em relação ao silencio e
esquecimento da ditadura civil militar brasileira?
Veja o caso de uma
cidade com as características de Foz do Iguaçu. Sabemos que aqui existem muitos
segredos. Aqui as pessoas não falam, sussurram, e as
histórias vão se perdendo com o passar do tempo. São muitos os casos, e às
vezes relembrar um passado marcado por situações traumatizantes é o mesmo que
remexer em uma ferida que ainda não cicatrizou completamente.
Durante anos eu
andei vasculhando a Caixa de Pandora da memória coletiva, numa tentativa de
trazer à geração atual lembranças do período da
ditadura civil-militar.
Depois de portas e janelas batidas e algumas histórias
arrancadas à fórceps, em 2004 eu fui vasculhar o arquivo da Delegacia da
Polícia Federal em Foz do Iguaçu.
Durante dois
meses vasculhei os mandados de prisão, informes, radiogramas, ofícios recebidos
e expedidos, dossiês, relatórios e outros tipos de documentos produzidos pela
burocracia policial.
Busca tardia, reconheço, mas fazer o quê, se Lei da Anistia
brasileira foi escrita para servir ao propósito do esquecimento do passado. Enquanto as vítimas da ditadura
precisam remexer nos arquivos para que suas histórias sejam reconstruídas, os
algozes e seus cúmplices fazem de tudo para que o passado permaneça intacto e
possam, assim, terminar em paz os seus dias. Estão normalmente dispostos a
pagar a intocabilidade do passado com o seu próprio esquecimento pela História.
Ao esmiuçar o
conteúdo do arquivo eu tive acesso a um conjunto de documentos que traçam a
história do oeste e sudoeste do Paraná e em particular de Foz do Iguaçu nos
últimos trinta anos.
6-Como
avalia o impacto da Revolução Cubana na militância brasileira dos anos de
1960/1970?
7-Ao contrario do que houve com Argentina, Chile e
Uruguai, no Brasil não se reconhece o termo Terrorismo
de Estado para qualificar a ditadura civil-militar. Como você avalia esta
questão?
8-É comum alguns historiadores e jornalistas brasileiros
afirmarem que a ditadura foi estritamente militar. Admitem que o golpe foi
civil-militar, mas a ditadura foi militar. Como você avalia esta questão?
9-Como você avalia a atualidade da publicização dos
documentos relacionados aos órgãos de repressão da ditadura e seus correlatos?
10-Por fim, gostaríamos de disponibilizar este espaço
para suas considerações finais sobre o assunto, e para que comente algo sobre o
seu trabalho atual e o site Documentos
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