Faltavam cinco dias para o fechamento das comportas. Em breve as águas do Paranazão iriam começar a subir e encobrir o que restava das plantações e das ruínas que os colonos iam deixando para trás. A não ser algumas casas nas vilas de Itacorá e Alvorada do Iguaçu, o restante já havia sido desmontado. Quem ficou na região aproveitou o madeiramento das construções. Mas aqueles que foram para longe venderam casas e galpões inteiros para moradores de São Miguel, Santa Terezinha e até de Foz do Iguaçu. O professor José Kuiawa, um dos pioneiros do ensino superior na região oeste, chegou a comprar uma igreja e a adaptou para servir como moradia. A casa, que um dia foi um templo religioso, está até hoje no começo da Avenida General Meira, logo após a Igreja Luterana, em Foz do Iguaçu.
Como
conseqüência da repentina valorização da terra no Oeste, muitos dos
agricultores desapropriados não conseguiram adquirir novas propriedades na
região. O preço oferecido pela Binacional não ultrapassava a metade do valor
que era pedido por propriedades idênticas fora da área que seria desapropriada.
A
resistência aos preços oferecidos pela Itaipu durou cerca de cinco anos. No
começo foram pequenas reuniões nas igrejas católicas e luteranas da região.
Após dezenas de tentativas frustradas de negociação, no dia 14 de julho de
1980, cerca de 400 agricultores sitiaram o escritório da Itaipu
A
imprensa da região foi para Santa Helena e os boletins radiofônicos acabaram
atraindo colonos dos arredores. Nas primeiras horas da tarde já eram cerca de 1.500
manifestantes que se deslocaram de Rondon, Itacorá, Missal, Alvorada do Iguaçu
e outras localidades. Para garantir alimentação aos acampados várias carretas
carregadas com gêneros alimentícios foram estacionadas no local. Um serviço de
alto-falante denominado Rádio Justiça e Terra foi instalado em cima de um
caminhão e por ele desfilaram oradores e duplas de cantores acompanhadas por
sanfona e violão. Em pouco tempo dezenas de barracas de lona tomaram conta da
área do acampamento e faixas e cartazes com dizeres alusivos ao movimento foram
espalhados nas imediações e colados nos pára-brisas e na parte traseira dos
veículos estacionados.
Uma comissão para negociar com a Itaipu foi eleita pelos
manifestantes e as reuniões se prolongaram até a diretoria da Itaipu prometer
rever posições e abrir um canal de negociação com os colonos. Diante do
compromisso assumido os agricultores desmontaram o acampamento e retornaram às
suas propriedades.
Passados
mais de sete meses e como a empresa binacional não cumpria as promessas feitas
nas reuniões de Santa Helena os colonos resolveram fazer uma nova assembléia.
Dessa vez foi em Itacorá no dia 16 de março de 1981. Nela os agricultores
decidiram marchar em direção a Foz do Iguaçu e acampar em frente do Centro
Executivo, na Vila A. No dia seguinte setecentos colonos partiram em carros e
caminhões, com equipamentos e mantimentos, dispostos a ficar acampados por
semanas ou meses, até que Itaipu atendesse às reivindicações. Ao chegarem
próximos ao trevo em que a BR 277 se bifurca em direção à ponte que liga o Brasil ao Paraguai e em
direção ao Centro Executivo, os agricultores foram impedidos de prosseguir.
Andaram mais dois quilômetros pela Avenida Paraná e antes de chegarem nas proximidades
das primeiras casas do conjunto residencial da Vila A foram barrados por 200
homens da PM e da segurança da Itaipu, armados com revólveres, cassetetes e
baionetas montadas na ponta de fuzis.
Foi
grotesca a cena, os soldados na posição de disparar, tremendo de vergonha ao
terem de apontar suas armas para os agricultores desarmados e acompanhados por
suas mulheres e filhos. Diante do aparato repressivo os manifestantes decidiram
recuar e montaram o acampamento no entroncamento da Avenida Paraná com a BR
277. Graças a organização adquirida na luta reivindicatória foi possível manter
por 54 dias o acampamento. No local que ficou conhecido como o “Trevo da
Vergonha”, os agricultores organizaram comissões de alimentação, segurança,
higiene, imprensa e tal como
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